Uma flor laranja vibrante, capaz de alcançar até 20 m de altura, vem tirando o sono de ambientalistas e moradores de Santa Catarina. Trata-se da espatódea (Spathodea campanulata), árvore africana conhecida como “planta assassina” por prejudicar abelhas, beija-flores e borboletas. O estado proibiu o cultivo da espécie e determinou multa de R$ 1.000 para quem insistir em mantê-la. A medida gerou dúvidas: por que uma árvore ornamental foi banida? Como identificar e remover a planta de forma segura? O artigo a seguir responde a essas perguntas, explica a legislação e indica opções nativas para quem deseja um jardim bonito e, sobretudo, amigável à biodiversidade.
O que é a espatódea e por que ganhou o apelido de “planta assassina”
A espatódea é originária da África Equatorial e se popularizou no Brasil na década de 1950 devido à sua copa frondosa e às flores em forma de sino, de cor vermelho-alaranjada. Contudo, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) identificaram compostos tóxicos no néctar e no pólen da espécie. Esses compostos afetam o sistema nervoso de pequenos polinizadores e podem levar à morte de abelhas nativas.
Além da toxicidade, a árvore produz sementes aladas que se espalham facilmente pelo vento. Cada fruto chega a liberar até 500 sementes, permitindo que a planta colonize rapidamente áreas de mata, margens de estradas e parques urbanos. Por essas características, a espatódea é classificada como exótica invasora pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento Ambiental, justificando o temido rótulo de “assassina”.
Impactos ambientais: ameaça aos polinizadores e à biodiversidade catarinense
Polinizadores respondem por 75 % da produção de alimentos no mundo, segundo a Food and Agriculture Organization (FAO). Quando a espatódea domina um território, ela reduz a disponibilidade de néctar saudável, fazendo com que abelhas, beija-flores e borboletas sofram intoxicação ou simplesmente abandonem a área. Esse fenômeno gera, em cadeia, a diminuição da polinização de plantas nativas e de cultivos agrícolas próximos.
- Abelhas sem ferrão: as espécies mandaçaia e jataí são as mais afetadas pelo néctar tóxico.
- Beija-flores: estudos do Instituto Chico Mendes (ICMBio) apontam alterações no comportamento alimentar da ave.
- Flora local: árvores como araçá, pitanga e jabuticabeira perdem eficiência reprodutiva sem a presença de polinizadores.
Outro problema é o sombreamento denso proporcionado pela espatódea, que impede a germinação de espécies nativas no sub-bosque, provocando empobrecimento da vegetação e favorecendo a erosão do solo em encostas catarinenses.
Legislação em Santa Catarina: o que diz a lei e como funciona a multa de R$ 1.000
Em 2023, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina aprovou a Lei 18.350/23, que proíbe o plantio, a comercialização e a distribuição de mudas de espatódea. O texto foi sancionado pelo governador em janeiro de 2024, entrando em vigor imediatamente. O artigo 4.º estabelece:
“O descumprimento desta lei implicará aplicação de multa de R$ 1.000 por indivíduo arbóreo identificado, sem prejuízo de outras sanções ambientais.”
A fiscalização cabe à Polícia Militar Ambiental e às prefeituras. Caso a pessoa receba notificação, ela tem 30 dias para retirar a planta. Se o responsável não cumprir o prazo, a multa dobra e as autoridades podem realizar a remoção compulsória, cobrando os custos adicionais. Importante ressaltar que a lei não exige corte imediato de exemplares antigos em áreas rurais, desde que não haja reprodução. Entretanto, a venda de sementes e mudas está totalmente vetada em viveiros e lojas de jardinagem.
Orientações para proprietários: remoção segura e espécies nativas para substituir a espatódea
Se você possui espatódea no quintal, o primeiro passo é confirmar a identificação da árvore. Procure pelas folhas compostas, com folíolos ovais e brilhantes, e pelas flores em cachos alaranjados. Confirmada a presença, siga estas orientações:
- Solicite autorização: verifique na prefeitura se há necessidade de licença para corte; em área urbana, o procedimento costuma ser obrigatório.
- Corte controlado: contrate um podador habilitado. A seiva pode causar irritação cutânea; use equipamento de proteção.
- Destinação correta: as toras devem ser encaminhadas a compostagem industrial ou pontos de coleta de resíduos de poda.
- Monitore rebrotas: aplique tinta asfáltica ou selante no toco para evitar que a árvore volte a brotar.
Após a retirada, substitua a espécie invasora por árvores nativas que atraiam polinizadores e se adaptem ao clima catarinense:
- Manacá-da-serra (Tibouchina mutabilis)
- Pitanga (Eugenia uniflora)
- Ipê-amarelo (Handroanthus albus)
Essas alternativas oferecem flores vistosas, alimento seguro para abelhas e demanda hídrica compatível com o regime de chuvas regional.
Como colaborar com o controle da espécie invasora
O combate à espatódea não depende apenas das autoridades. Cidadãos podem contribuir de diversas formas:
- Denuncie: caso encontre comércio ilegal de mudas, relate à ouvidoria da Polícia Militar Ambiental (telefone 181).
- Eduque vizinhos: compartilhe informações em redes sociais e grupos de bairro, alertando sobre a multa de R$ 1.000.
- Participe de mutirões: ONGs locais promovem remoções coletivas e plantios de espécies nativas.
Ao eliminar a espatódea, Santa Catarina protege seus polinizadores, assegura a produção agrícola e mantém os serviços ambientais essenciais. Escolher plantas nativas, fiscalizar e disseminar conhecimento são atitudes que transformam jardins privados em aliados da natureza.











