No mês em que o Outubro Rosa mobiliza o país, o Trastuzumabe Entansina desembarcou no almoxarifado do Aeroporto de Guarulhos com a promessa de atender toda a demanda do Sistema Único de Saúde. A primeira remessa, com 11.978 frascos, inaugura uma série de quatro lotes que se estenderão até junho de 2026. Não se trata de apenas mais um medicamento: é a primeira terapia conjugada para câncer de mama HER2-positivo ofertada de forma integral pela rede pública. Nas palavras de José Barreto, diretor do Departamento de Atenção ao Câncer do Ministério da Saúde, a chegada do fármaco “pode reduzir até 50% a mortalidade” das pacientes elegíveis. Ao longo deste artigo, você vai entender como o SUS garantiu o acesso, quais resultados clínicos são esperados, quanto foi investido e quem terá direito ao tratamento.
Trastuzumabe Entansina: o que é e por que muda o jogo
Também chamado de T-DM1, o Trastuzumabe Entansina combina o anticorpo monoclonal trastuzumabe a um agente citotóxico, a entansina (DM1). Esse design faz dele um medicamento inovador: o anticorpo reconhece as células que superexpressam a proteína HER2, enquanto a entansina é liberada apenas no interior do tumor. Assim, a droga atua de forma dirigida, poupando tecidos saudáveis e reduzindo efeitos adversos típicos da quimioterapia tradicional.
Ensaios clínicos demonstram aumento da sobrevida livre de doença e ganho de qualidade de vida em mulheres que ainda exibem sinais do câncer após o tratamento inicial. Por ser um fármaco de última geração, estava restrito, até agora, a planos privados ou ações judiciais. A incorporação ao SUS, portanto, marca um divisor de águas na equidade do cuidado oncológico no Brasil.
Como o SUS garantiu acesso integral ao novo medicamento
Para ofertar o Trastuzumabe Entansina a todas as pacientes elegíveis, o Ministério da Saúde negociou diretamente com o fabricante. O resultado foi um preço 50 % menor que o praticado no mercado: de R$ 7,2 mil para R$ 3,5 mil (frasco de 100 mg) e de R$ 11,6 mil para R$ 5,6 mil (frasco de 160 mg). O contrato prevê a compra de 34,4 mil frascos-ampola, o suficiente para cobrir 100 % da demanda estimada até 2026.
As 27 secretarias estaduais de saúde receberão o medicamento de forma escalonada e serão responsáveis pela dispensação nos serviços de oncologia habilitados. O Ministério da Saúde também publicou orientações técnicas para padronizar critérios de elegibilidade e monitora, em tempo real, o consumo via Sistema de Controle Logístico de Medicamentos.
Impacto clínico: redução de mortalidade e qualidade de vida
Estudos nacionais e internacionais demonstram que o Trastuzumabe Entansina pode reduzir em até 50 % o risco de morte ou recorrência em câncer de mama HER2-positivo em estágio III que persiste após quimioterapia neoadjuvante. Esse ganho decorre de três mecanismos:
- Bloqueio do receptor HER2, inibindo a proliferação celular.
- Entrega seletiva da entansina, que induz apoptose tumoral.
- Menor toxicidade sistêmica, permitindo adesão ao tratamento completo.
Pacientes relatam menos queda de cabelo e menor impacto funcional, fatores que se traduzem em bem-estar durante a terapia. Ainda assim, alguns efeitos adversos merecem atenção:
- Fadiga e náusea leves a moderadas;
- Dor muscular transitória;
- Possíveis alterações hepáticas e disfunção cardíaca, monitoradas por exames periódicos.
“É uma grande vitória para a saúde pública e para o povo brasileiro”, declarou José Barreto ao receber o lote inaugural.
Investimento, economia e logística de distribuição
O investimento total soma R$ 159,3 milhões, mas a economia, graças à negociação agressiva, chega a R$ 165,8 milhões em comparação aos valores de mercado. Esse montante liberado pode ser realocado em outras frentes, como radioterapia e diagnóstico precoce.
A logística foi estruturada em quatro etapas: outubro de 2025, dezembro de 2025, março de 2026 e junho de 2026. Cada lote será armazenado em condições de refrigeração controlada e despachado para:
- Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACONs);
- Unidades de Assistência de Alta Complexidade (UNACONs);
- Hospitais universitários credenciados.
A previsão é beneficiar 1.144 mulheres já em 2025, número que deve crescer conforme novos casos forem diagnosticados e tratados segundo os protocolos clínicos.
Outras frentes do Ministério da Saúde contra o câncer de mama
O Trastuzumabe Entansina não é a única novidade. O SUS passou a ofertar três inibidores de ciclinas—abemaciclibe, palbociclibe e ribociclibe—para doença avançada com receptor hormonal positivo e HER2-negativo. Além disso, a mamografia preventiva foi ampliada: agora mulheres a partir de 40 anos podem fazer o exame mesmo sem sintomas.
Outra estratégia é o programa Agora Tem Especialistas, que colocou 28 carretas com mastologistas, ginecologistas e radiologistas em 20 estados. As unidades móveis realizam consultas, biópsias e exames de imagem, facilitando o diagnóstico precoce sobretudo em regiões com vazios assistenciais.
Orientações para pacientes: quem pode receber e próximos passos
Tem direito ao Trastuzumabe Entansina a paciente com câncer de mama HER2-positivo, geralmente em estágio III, que apresente resíduo tumoral após quimioterapia neoadjuvante. O protocolo prevê avaliação de um oncologista, confirmação da positividade para HER2 por imunohistoquímica ou FISH e solicitação do fármaco pela secretaria estadual.
Se você se enquadra nesse perfil, procure seu médico assistente com os seguintes documentos:
- Laudo histopatológico com status HER2;
- Relatório de conclusão da quimioterapia inicial;
- Exames cardíacos (ecocardiograma) recentes;
- Cartão SUS atualizado.
Após a autorização, o tratamento costuma iniciar em até 30 dias. A droga é aplicada de forma intravenosa, em ciclos de 21 dias, até 14 doses ou até ausência de benefícios clínicos.
Com estas medidas, o SUS reforça seu compromisso de oferecer terapias de ponta, democratizando o acesso a tratamentos que, não faz muito tempo, estavam restritos a poucos. Fique atento aos canais oficiais e converse com seu oncologista para saber se o Trastuzumabe Entansina é a melhor opção para o seu caso.












