A primeira parcela do 13º salário costuma chegar como um alívio no fim do ano, mas muitos trabalhadores se surpreendem ao notar valores menores do que o esperado. Quando isso acontece, é provável que existam descontos indevidos no 13º salário. Neste artigo, você aprenderá o que a lei permite descontar na primeira parcela, como identificar erros no holerite, quais passos seguir para reaver o dinheiro e, por fim, como prevenir o problema nos próximos anos.
O que pode e o que não pode ser descontado na 1ª parcela
O pagamento do 13º é regulamentado pela Lei 4.749/65 e pelo Decreto 57.155/65. A legislação determina que a primeira parcela, equivalente a 50% da remuneração recebida até 30 de novembro, seja depositada sem qualquer abatimento de INSS ou Imposto de Renda. Cabe ao empregador apenas recolher 8% de FGTS sobre o valor, operação que não reduz o montante pago ao empregado.
- Permitido: nenhum desconto para o trabalhador na primeira parcela.
- Permitido ao empregador: depósito de FGTS na conta vinculada.
- Proibido: IRRF, INSS, pensão alimentícia não declarada em juízo ou taxa sindical.
Já a segunda parcela, depositada até 20 de dezembro, sofre incidência de INSS, Imposto de Renda e outros descontos previstos em contrato (por exemplo, pensão alimentícia homologada). Portanto, qualquer abatimento observado antes desse prazo configura desconto indevido no 13º salário.
Como identificar descontos indevidos no holerite
O primeiro passo é conferir o demonstrativo de pagamento. Muitas empresas disponibilizam o holerite em plataformas internas, mas você também pode solicitar o documento ao setor de Recursos Humanos (RH).
- Verifique se a rubrica “1ª Parcela do 13º” corresponde a 50% do salário base ou da média salarial (se você recebeu adicionais ou comissões).
- Cheque a coluna “descontos”. Qualquer valor diferente de R$ 0,00 já acende o alerta.
- Compare o valor líquido recebido com meses anteriores. Diferenças injustificadas podem indicar erro de cálculo.
“A primeira parcela é sempre bruta. Se houver descontos, recomendo ao empregado registrar a inconsistência por escrito já nas primeiras 48 horas.” — Carlos Eduardo, auditor-fiscal do Trabalho.
Outra dica é analisar o extrato do FGTS. Caso o empregador não tenha recolhido a contribuição sobre o 13º, além de ilicitude trabalhista, você pode ficar em desvantagem em caso de demissão, já que a multa de 40% incide sobre o total depositado.
Passo a passo para exigir a devolução do valor
Após confirmar o erro, aja rapidamente. A legislação estabelece multa administrativa de R$ 170,26 por empregado para quem não paga corretamente o 13º, mas a devolução do valor depende da sua iniciativa. Siga o roteiro abaixo:
- Reúna provas: holerite, extrato bancário e prints de sistemas internos.
- Comunique o RH: envie e-mail detalhando a inconsistência e inclua anexos. Peça resposta por escrito.
- Fixe prazo: dê cinco dias úteis para correção. A abordagem formal evita alegação de desconhecimento.
- Procure o sindicato: se não houver retorno, o sindicato da categoria pode intermediar, enviar notificação extrajudicial e aplicar pressão.
- Registre denúncia no Ministério do Trabalho: utilize o canal “Trabalho BR” ou ligue para o número 158. A empresa poderá ser fiscalizada e multada.
- Acione a Justiça do Trabalho: caso ainda não receba, ingresse com reclamação trabalhista. O prazo prescricional é de cinco anos para empregados ativos e dois anos após o término do contrato.
A maioria dos conflitos se resolve internamente, mas, se necessário, a Justiça pode determinar pagamento em dobro, correção monetária e juros.
Canais de denúncia se o problema persistir
Os principais órgãos que o trabalhador pode acionar são:
- Superintendências Regionais do Trabalho: analisam irregularidades e lavram autos de infração.
- Ministério Público do Trabalho (MPT): atua em ações coletivas, sobretudo quando o problema afeta vários empregados.
- Defensoria Pública da União: oferece assistência jurídica gratuita a trabalhadores de baixa renda.
- Aplicativo Carteira de Trabalho Digital: permite abrir solicitação de fiscalização sem sair de casa.
Em todas as hipóteses, mantenha cópias de documentos, comunicados e protocolos, pois eles serão essenciais para comprovar a tentativa de solução amigável.
Como se prevenir nos próximos anos
Embora falhas possam ocorrer, algumas atitudes reduzem o risco de novos descontos indevidos no 13º salário:
- Monitore mensalmente o cálculo de médias de horas extras, adicionais e comissões, pois eles influenciam o valor final.
- Mantenha arquivo digital de todos os holerites recebidos durante o ano.
- Atualize dados pessoais no RH para evitar retenção incorreta de pensão ou empréstimos consignados.
- Fique atento ao calendário oficial: 30 de novembro (1ª parcela) e 20 de dezembro (2ª parcela). Atrasos reiterados merecem denúncia.
Outra recomendação é acompanhar negociações coletivas. Em alguns setores, acordos preveem antecipação do 13º nas férias ou no aniversário, e regras específicas podem alterá-lo. Conhecer esses detalhes evita surpresas na conta bancária.
Em resumo, a primeira parcela do 13º deve chegar limpa, sem descontos. Ao perceber qualquer abatimento, documente, questione formalmente e, se necessário, leve o caso aos órgãos competentes. Dessa forma, você protege seus direitos trabalhistas e garante que o fim do ano seja realmente de alegria — e com dinheiro no bolso.