Comprar um carro nunca foi uma tarefa para a maior parte da população brasileira, no entanto, entre 2019 e 2023, se tornou ainda mais complicado. Segundo um levantamento realizado pelo economista Matheus Peçanha, do FGV/IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), os três principais carros populares vendidos no país ficaram, em média, 45,6% mais caros. Estes modelos têm como público-alvo consumidores de menor poder aquisitivo, devido ao seu preço ser mais acessível.
Nesse sentido, os três veículos utilizados para a pesquisa foram o Renault Kwid Zen 1.0, Chery QQ Act 1.0 e Fiat Mobi Like 1.0 e, há quatro anos, eles custavam em média R$30.813,33, o equivalente a 31 salários mínimos (o piso nacional da época era de R$998). Já em 2023, o preço médio destes carros é de R$67.505 e, levando em conta o salário mínimo deste ano, são necessários aproximadamente 52 salários mínimos para adquirir um carro popular.
Inclusive, o aumento no valor dos carros populares foi superior à inflação acumulada do período, que foi de 27,6%, ou seja, 18 pontos percentuais a menos que o aumento no valor dos carros populares. Os dados da inflação foram registrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística através do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Presidente Lula criticou preços de carros populares
Embora o preço médio registrado de carros populares esteja em R$67.505, não é difícil achar modelos que custem até mesmo R$90 mil. Devido a isso, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, realizou críticas à precificação dos veículos brasileiros em um discurso realizado na reunião do novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável.
“Qual é o pobre que pode comprar um carro popular por R$90 mil? Um carro de R$90 mil não é popular, é para a classe média”, disse o presidente Lula. Devido a isso, começaram a surgir conversas entre as montadoras e o governo para a criação de um programa que busque incentivar a produção de carros populares. O projeto vem sendo liderado pela Stellantis, especialmente pela Fiat.
No passado, a Fiat também impulsionou a mudança na tributação dos carros com motor 1.0, criando uma nova categoria de carros populares. A Volkswagen também chegou a pressionar para a criação de uma lei parecida, buscando incentivar a produção de veículos refrigerados ar. Embora não tenha fornecido detalhes sobre o projeto, Lula apontou que um carro popular deve ser mais acessível e simples, destacando que a população não gosta do termo “popular”, dado que pode sugerir inferioridade.
“Quando fala que vai comprar um carro popular, uma geladeira popular, um fogão popular, tudo é rebaixar a gente. Então, por que usar a palavra ‘popular’?”, disse Lula. Com isso, a expectativa é que o governo federal gere esforços para tornar carros mais acessíveis, embora não esteja claro se isso vai ser relacionado a um projeto com uma montadora em específico ou se será através da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), como já foi feito no passado ou até mesmo através do aumento do crédito para a compra parcelada de veículos.