Uma movimentação incomum no sistema do Instituto Nacional do Seguro Social deixou milhares de aposentados em alerta. Entre janeiro e fevereiro de 2025, um servidor isolado conseguiu liberar mais de 20 mil benefícios para empréstimos consignados sem o pedido formal dos titulares. O número assusta: em apenas 30 dias, foram destravados valores suficientes para alimentar um “mercado paralelo” de créditos. O episódio reacende o debate sobre fraudes no INSS, o alcance dos golpistas e, principalmente, o que o cidadão pode fazer para não virar estatística. A seguir, entenda como a fraude ocorreu, quais medidas de segurança estão em andamento e os passos práticos para resguardar seu benefício.
Como funciona o desbloqueio de benefícios e onde o esquema falhou
Quando o INSS concede uma aposentadoria ou pensão, o valor fica bloqueado para empréstimos consignados durante os primeiros 90 dias. Esse período serve como “janela de segurança” para evitar contratos apressados ou golpes. Depois disso, o desbloqueio pode ser solicitado apenas pelo próprio beneficiário, seja pelo aplicativo Meu INSS, pela Central 135 ou presencialmente na agência.
No caso investigado, o servidor possuía credencial de nível intermediário, suficiente para alterar o status de milhares de cadastros sem acionar etapas de dupla autenticação. Auditorias internas constataram:
- Desbloqueios em finais de semana e feriados, quando o sistema deveria estar restrito a consultas.
- Mais de 1,2 mil liberações em um único dia – produtividade considerada humanamente impossível sem automação.
- Ausência do registro digital que comprova a solicitação do segurado.
Essas falhas de fluxo possibilitaram que correspondentes bancários, também chamados de “pastinhas”, contratassem empréstimos em nome de terceiros e repassassem comissões clandestinas. É exatamente esse buraco operacional que alimenta as fraudes no INSS e coloca em risco o orçamento de milhares de famílias.
Entenda o golpe dos empréstimos consignados suspeitos
O empréstimo consignado é popular porque as parcelas são descontadas diretamente do benefício, o que reduz o risco para o banco e, em tese, para o beneficiário. Juros mais baixos, porém, viram chamariz para quadrilhas especializadas em roubar dados ou subornar servidores.
“Detectamos um modus operandi em que correspondentes angelham dados pessoais, aguardam a concessão e, antes mesmo do segurado receber a primeira parcela, já contratam o crédito”, diz um trecho do relatório da Corregedoria.
Na prática, o golpista precisa apenas de dois elementos: o CPF da vítima e a confirmação digital de que o benefício está desbloqueado. Se um servidor faz o trabalho sujo de liberar, o restante acontece em minutos. O prejuízo médio, segundo o INSS, ultrapassa R$ 8 mil por contrato fraudado.
Além de descontos inesperados, as vítimas enfrentam outro problema: a dificuldade de provar que o empréstimo é indevido. Enquanto o processo é analisado, o dinheiro já está comprometido, e as parcelas continuam sendo debitadas mensalmente.
Principais alvos e riscos para os beneficiários
A auditoria identificou quatro perfis mais vulneráveis às fraudes no INSS:
- Idosos acima de 75 anos, que acessam pouco o Meu INSS.
- Moradores de áreas rurais, com conexões limitadas à internet.
- Pessoas que recebem benefício por incapacidade e estão em tratamento de saúde.
- Segurados que delegam procuração a terceiros, muitas vezes sem supervisão.
Os riscos vão além do desconto no contracheque. Caso parcela do empréstimo permaneça em atraso depois que o benefício é suspenso ou cancelado, o nome do segurado pode ser negativado em serviços de proteção ao crédito. Além disso, especialistas alertam para o vazamento de informações sensíveis, que podem ser reutilizadas em golpes de cartão ou falsificação de documentos.
Medidas anunciadas pelo INSS para reforçar a segurança
Pressionado por sindicatos e entidades de defesa do consumidor, o INSS divulgou um pacote emergencial de reforço na segurança:
- Implementação de biometria facial obrigatória para qualquer desbloqueio de benefício.
- Cruzamento automatizado de logs, identificando acessos fora do expediente ou acima do limite diário.
- Auditoria trimestral e rotativa em todas as credenciais de servidores com poderes de liberação.
- Criação de um selo “Bloqueio Permanente” que impede, de forma definitiva, a contratação de crédito, salvo revogação presencial do titular.
Segundo a presidente do instituto, Glaucia Amaral, “essas ações buscam recuperar a confiança perdida e cortar o oxigênio financeiro das quadrilhas que exploram as brechas”. Ainda em 2025, a meta é reduzir em 70% as ocorrências registradas de fraudes no INSS.
Passo a passo para se proteger e denunciar irregularidades
Mesmo com novas barreiras, a segurança começa pelo próprio segurado. Siga o roteiro abaixo para evitar dores de cabeça:
- Acesse o Meu INSS ao menos uma vez por mês e verifique a aba Extrato de Pagamento. Qualquer desconto desconhecido deve acender o alerta.
- Mantenha o bloqueio permanente ativado se você não pretende contratar consignado. O procedimento leva dois minutos no aplicativo ou pode ser feito na agência.
- Nunca forneça senha ou procuração sem registro em cartório. Bancos e correspondentes idôneos não solicitam dados sensíveis por telefone.
- Recebeu ligação suspeita? Anote o número, encerre a chamada e comunique a Central 135.
- Se o golpe já aconteceu, registre ocorrência no portal Meu INSS, protocole denúncia na Polícia Federal e guarde todos os comprovantes de contato com o banco.
Ao adotar essas medidas simples, você diminui drasticamente a probabilidade de se tornar vítima de fraudes no INSS. E lembre-se: quanto mais rápido o comunicado, maior a chance de reaver valores descontados indevidamente.
Casos como o do servidor investigado evidenciam a necessidade de vigilância constante. A tecnologia avança, mas os golpistas também. Mantenha seus dados em sigilo, informe-se pelas vias oficiais e compartilhe estas orientações com familiares que podem ter dificuldade de acessar a internet. A prevenção é, ainda, a melhor defesa contra qualquer tentativa de fraude.