Você já se perguntou por que alguns fiéis recebem o título de santo enquanto outros, igualmente devotos, não avançam além da fama local? O processo de canonização existe para assegurar que cada caso seja estudado com o máximo de rigor histórico, teológico e científico. Do prazo obrigatório após o falecimento ao exame minucioso de um milagre reconhecido, a jornada é longa e, muitas vezes, cheia de reviravoltas. Acompanhe, em linguagem clara, como a Igreja Católica estrutura essas seis fases e conheça exemplos recentes, como o de São Carlo Acutis, canonizado em 2025.
O que é o processo de canonização e por que ele é tão criterioso?
O processo de canonização é a investigação oficial conduzida pelo Dicastério para as Causas dos Santos, órgão do Vaticano que avalia se um fiel viveu virtudes heroicas e intercede com milagres após a morte. Implementado de forma padronizada no século XX, ele ganhou ainda mais precisão com as reformas dos papas Paulo VI (1969) e João Paulo II (1983). Desde então, documentos, testemunhos e laudos médicos passam por várias comissões antes de chegar ao parecer final do Papa. A exigência de comprovar ao menos um milagre reconhecido – dois no total, para a canonização de não-mártires – é o que garante credibilidade ao resultado.
As seis etapas oficiais que levam alguém ao título de santo
Embora cada causa tenha suas particularidades, todas seguem um roteiro fixo:
- Espera mínima de cinco anos: período para avaliação serena; pode ser dispensado pelo Papa em casos excepcionais.
- Fama de santidade: iniciado o processo, o candidato recebe o título de Servo de Deus, graças ao reconhecimento popular de suas virtudes.
- Fase diocesana: uma comissão local coleta documentos, escritos e depoimentos sob juramento. Todo o material é lacrado e enviado a Roma.
- Fase romana: teólogos e cardeais do dicastério analisam o dossiê (Positio); se aprovado, o fiel é declarado Venerável.
- Beatificação: confirmando-se um milagre reconhecido – ou o martírio – o Papa autoriza o culto público limitado ao beato.
- Canonização: após um segundo milagre, o culto torna-se universal, e o nome do santo entra no calendário litúrgico da Igreja.
Cada fase pode levar de poucos meses a décadas, dependendo da complexidade dos documentos e da clareza dos supostos milagres. É por isso que o processo de canonização continua sendo uma maratona e não uma corrida de 100 metros.
Como a Igreja confirma um milagre reconhecido?
O critério principal para um milagre reconhecido é a total falta de explicação científica. Para curas, exige-se que sejam instantâneas, duradouras e completas. A análise segue três filtros:
- Perícia médica independente: especialistas confirmam que o evento foge a qualquer prognóstico plausível.
- Comissão teológica: padres e teólogos avaliam se há relação direta entre a oração direcionada ao candidato e o resultado extraordinário.
- Congregação de cardeais e bispos: revisa o relatório e envia ao Papa para aprovação final.
Se algum dos painéis encontrar dúvidas sérias, o suposto milagre é arquivado. A cura de uma estudante na Costa Rica, atribuída a Carlo Acutis em 2024, passou por esse trâmite e se tornou o sinal decisivo para sua canonização no ano seguinte.
Exemplos modernos que ilustram o rito de santidade
Casos recentes ajudam a visualizar como o processo de canonização se aplica hoje:
- Carlo Acutis (1991-2006): conhecido como “santo blogueiro”, evangelizou pela internet. Beatificado em 2020, tornou-se santo em 7 de setembro de 2025.
- Pier Giorgio Frassati (1901-1925): leigo italiano que dedicou a vida aos pobres; canonizado no mesmo dia que Acutis.
- São João Paulo II: teve o prazo de cinco anos encurtado devido à comoção global após sua morte em 2005; canonizado em 2014.
- São João XXIII: canonizado sem o segundo milagre, decisão excepcional do Papa Francisco em 2014.
Esses exemplos revelam que, embora existam regras firmes, o Papa pode flexibilizar etapas quando há consenso sobre a extraordinária santidade do candidato.
Beatificação x canonização: o que muda na prática?
A beatificação permite que a pessoa seja celebrada em locais específicos: a diocese onde viveu, a congregação a que pertenceu ou regiões determinadas pela Santa Sé. A canonização, ao contrário, torna o culto universal. Liturgias, imagens e festas podem ser organizadas em qualquer paróquia sem necessidade de permissão especial. Além disso, o nome do santo passa a integrar o Missal Romano e o Martirológio, influenciando a devoção de milhões de católicos no mundo inteiro.
Perguntas práticas para quem quer acompanhar uma causa de perto
Se você sente afinidade com um Servo de Deus e deseja seguir sua trajetória até o altar, anote as dicas:
- Visite o site oficial da diocese responsável; boletins mensais divulgam avanços do processo de canonização.
- Participe de missas e vigílias dedicadas ao candidato. Relatos de graças alcançadas costumam ser recolhidos nessas ocasiões.
- Ao testemunhar uma possível cura extraordinária, procure imediatamente o postulador da causa para iniciar a investigação médica.
- Acompanhe o portal do Dicastério para as Causas dos Santos, que publica decretos sobre milagre reconhecido e virtudes heroicas.
Dessa forma, você se torna parte ativa na história da Igreja, seja oferecendo testemunhos, seja divulgando informações corretas sobre o andamento da beatificação ou canonização.
A jornada de um fiel até o altar não é fruto de prestígio humano, mas de uma verificação detalhada que alia fé e razão. Ao entender cada passo do processo de canonização, percebemos que a santidade continua atual, inspirando pessoas de todas as idades a transformar o mundo com gestos concretos de amor.