Você sempre ouviu que “pressão 12 por 8” significava saúde em dia, certo? Pois esse número, gravado na memória de milhões de brasileiros, ganhou um novo status. A nova diretriz de hipertensão publicada em 2025 pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, Nefrologia e Hipertensão coloca 120/80 mmHg na faixa de pré-hipertensão. O ajuste busca detectar riscos mais cedo, incentivar mudanças de estilo de vida e evitar que o quadro evolua para níveis perigosos. Neste artigo, você entende o que realmente mudou, quais são as metas atuais e como proteger seu coração — tudo com linguagem simples e orientações práticas.
O que mudou na classificação da pressão arterial
Até 2024, valores inferiores a 140/90 mmHg eram considerados “normais” ou “limítrofes”. Agora, a nova tabela brasileira — alinhada às recomendações europeias — estabelece três principais faixas:
- Normal: abaixo de 120/80 mmHg;
- Pré-hipertensão: 120-139/80-89 mmHg;
- Hipertensão: igual ou superior a 140/90 mmHg (estágios 1, 2 e 3).
Segundo o cardiologista Carlos Nascimento, “a mudança cria um sinal amarelo para quem flutua em 12 por 8, reforçando a importância de intervenções ainda sem remédio”. Na prática, pacientes nessa zona precisam ser acompanhados mais de perto e orientados a adotar rotinas saudáveis antes que o problema avance.
Metas de tratamento mais rígidas para todos
A diretriz 2025 vai além da classificação e redefine o alvo terapêutico. A ordem agora é manter a pressão abaixo de 130/80 mmHg para qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo ou doenças associadas. Até então, o objetivo era ficar abaixo de 140/90 mmHg.
O motivo é simples: cada 10 mmHg de redução na pressão sistólica diminui em 20% o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e em 17% o de infarto. Ao adotar metas mais baixas, espera-se cortar significativamente as 100 mil mortes anuais atribuídas à hipertensão no Brasil.
“Você pode viver décadas sem sintomas, mas o dano aos vasos sanguíneos acontece em silêncio”, lembra o cardiologista Thiago Marinho.
Para alcançar o novo patamar, o documento recomenda terapia combinada (dois fármacos na mesma pílula) logo na primeira prescrição em casos de hipertensão confirmada e uso de monitorização residencial de pressão para ajustes finos de dose.
Prevenção: estilo de vida antes de medicamentos
A grande aposta da diretriz está na prevenção. Quem entra na zona de pré-hipertensão recebe, primeiro, um verdadeiro “receituário de rotina saudável”:
- Dieta DASH: rica em hortaliças verde-escuras, frutas da estação, grãos integrais, laticínios desnatados e oleaginosas;
- Redução de sal: máximo de 5 g por dia (menos de uma colher de chá);
- Atividade física moderada: 150 minutos semanais de caminhada rápida, ciclismo ou natação;
- Controle de peso e diminuição de álcool;
- Abandono do tabagismo.
Caso mudanças de hábito não normalizem a pressão em 3 a 6 meses — ou se o paciente tiver alto risco cardiovascular —, o profissional avalia o início de fármacos. Esse modelo “prevenção primeiro” tenta frear o crescimento da hipertensão, que já atinge 27,9% dos adultos brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão.
Ferramentas modernas de avaliação de risco
Outra novidade é o score PREVENT, calculadora que estima a probabilidade de eventos cardiovasculares em 10 anos. O índice considera:
- Idade e sexo;
- Obesidade e diabetes;
- Colesterol total e HDL;
- Danos a órgãos-alvo (rim, retina, coração).
Quanto maior o escore, mais intensivo deve ser o tratamento. O guia também reforça a obrigatoriedade de duas ou mais visitas para confirmar hipertensão, exceto em quem já sofreu infarto ou AVC — nesses casos, uma única medida de 12 por 8 sela o diagnóstico.
Para monitorar em casa, a diretriz recomenda aparelhos validados pelo Inmetro e três pares de medidas pela manhã e à noite, durante cinco dias. Esse protocolo reduz a “pressão do jaleco branco” e ajuda o médico a personalizar a atenção.
Impactos no SUS e atenção especial às mulheres
Cerca de 75% dos hipertensos dependem do Sistema Único de Saúde. Por isso, o documento dedica um capítulo exclusivo à realidade da rede pública, priorizando:
- Uso de medicamentos disponíveis na farmácia popular (diurético, IECA, BRA e bloqueador de canal de cálcio);
- Ações multiprofissionais com enfermeiros, nutricionistas e educadores físicos;
- Monitorização ambulatorial ou residencial de pressão quando o aparelho comunitário estiver disponível.
Para a saúde feminina, a diretriz aborda pontos críticos:
- Escolha de anticoncepcional em mulheres com pré-hipertensão ou histórico familiar;
- Acompanhamento de pressão na gestação e no puerpério;
- Reposição hormonal na peri-menopausa, avaliando riscos cardiovasculares.
A meta é reduzir complicações como pré-eclâmpsia e acidente vascular cerebral, que ainda figuram entre as principais causas de morte materna no país.
Por que o diagnóstico precoce continua essencial
Pré-hipertensão não causa dor, tontura ou falta de ar na maioria dos casos. Mesmo assim, ela lesiona lentamente coração, rins e cérebro. Fique atento aos sinais de alerta citados pelos especialistas:
- Dor de cabeça súbita e intensa;
- Pressão no peito ou falta de ar;
- Visão turva ou perda de força em um dos lados do corpo.
Ao perceber qualquer sintoma, procure um serviço de emergência. Fora desse contexto, faça aferições regulares em farmácias, UBS ou em casa. Pequenas atitudes — reduzir sal, caminhar diariamente e abandonar o cigarro — podem manter a pressão na zona saudável por toda a vida.
Em resumo, a nova diretriz não pretende “medicalizar” quem sempre ouviu que 12 por 8 era normal. O objetivo é transformar informação em prevenção. Adote as recomendações apoiadas pela ciência, consulte seu médico e garanta que o relógio do seu coração continue batendo no ritmo certo.