O anúncio do Pix parcelado gerou expectativa no mercado de pagamentos instantâneos, mas o Banco Central (BC) apertou o freio. Após sucessivos ataques cibernéticos que expuseram brechas regulatórias e ligações entre instituições de pagamento e o PCC, o regulador decidiu adiar a novidade por, pelo menos, três meses. A decisão coloca a segurança no centro do debate e reacende dúvidas de bancos, fintechs e consumidores sobre como dividir compras via Pix sem abrir espaço para fraudes milionárias. A seguir, entenda por que o lançamento foi suspenso, o novo cronograma, as barreiras de proteção implementadas e o que cada usuário pode fazer enquanto aguarda a chegada do serviço.
Por que o Banco Central adiou o Pix parcelado?
Previsto para setembro de 2025, o Pix parcelado permitiria que o pagador dividisse o valor em várias prestações, enquanto o recebedor obteria o montante total de imediato. No entanto, três fatores pesaram para o adiamento:
- Fraudes milionárias detectadas em operações de Pix e TED envolvendo instituições não licenciadas.
- Ataques cibernéticos recentes que comprometeram dados de clientes e expuseram fragilidades na legislação.
- Evidências de conexões entre empresas de pagamento e o Primeiro Comando da Capital, ampliando o risco sistêmico.
Com o foco na integridade do sistema financeiro, o BC considerou secundária qualquer funcionalidade que ampliasse o crédito antes de tapar as brechas de segurança. O órgão também se preocupa com o alto nível de endividamento das famílias, temendo que consumidores confiem no parcelamento sem perceber que contraem um empréstimo com juros.
Novo cronograma e etapas de implementação
Segundo informações obtidas pelo portal Poder360 em 26 de setembro de 2025, o adiamento deve durar aproximadamente 90 dias. O roteiro atualizado inclui:
- Até outubro de 2025: finalização do regulamento técnico do Pix parcelado.
- Até dezembro de 2025: divulgação do manual de experiência do usuário e dos procedimentos operacionais.
- Janeiro a março de 2026: período de transição, com convivência entre produtos atuais e a nova solução padronizada.
No cronograma original, todos esses marcos deveriam ocorrer em setembro. O BC defende que, ao reprogramar as datas, garante tempo para que bancos e fintechs revisem rotinas de compliance, testem sistemas antifraude e adaptem suas ofertas de crédito.
Barreiras de segurança: medidas já em vigor
Para conter o avanço de golpes, o Banco Central adotou ações imediatas que afetam todo o ecossistema de pagamentos:
- Limite de até R$ 15 mil nas transferências via Pix ou TED realizadas por instituições de pagamento não licenciadas.
- Rejeição automática de operações com indícios sólidos de fraude, fortalecendo filtragens em tempo real.
- Combate a contas laranja, contas-bolsão e transferências ligadas a criptoativos, com regras que entram em vigor ainda neste semestre.
- Consulta pública para apertar a regulação dos serviços de eFX, responsáveis por pagamentos e remessas internacionais.
Essas iniciativas se alinham ao princípio de “inovar com responsabilidade”, defendido pelo BC desde o lançamento do Pix em 2020. O objetivo é impedir que a facilidade de abrir empresas de pagamento vire porta de entrada para criminosos.
Impacto para bancos, fintechs e consumidores
O reforço regulatório traz efeitos imediatos nos custos operacionais das instituições, como explica Luiz Henrique Barbosa, diretor-executivo da Swarmy Tecnologia:
“A curto prazo, as novas exigências geram investimentos extras em infraestrutura de segurança e podem levar alguns players a deixar o mercado. No médio prazo, porém, o sistema ficará mais protegido e abrirá espaço para inovações mais ousadas.”
Para fintechs, o atraso do Pix parcelado adia receitas planejadas em produtos de crédito pré-aprovado. Já os bancos tradicionais ganham tempo para aprimorar motores de análise de risco e integrar ofertas de parcelamento às carteiras digitais. Para o consumidor, a principal consequência é a manutenção do modelo atual: parcelar compras no cartão de crédito ou contratar financiamento direto no app da instituição.
Dicas para usar o Pix com segurança enquanto espera
Mesmo sem o Pix parcelado, milhões de brasileiros continuam usando o sistema instantâneo diariamente. Veja boas práticas para reduzir riscos:
- Ative notificações de transações no aplicativo bancário e revise valores imediatamente.
- Estabeleça limites diários compatíveis com seu orçamento e ajuste-os somente quando necessário.
- Caso receba pedido de transferência, confirme a identidade do recebedor por outro canal antes de enviar o dinheiro.
- Evite acessar apps bancários em redes Wi-Fi públicas ou sem senha.
- Mantenha antivírus atualizado e autenticação em duas etapas habilitada.
Seguindo essas orientações, você minimiza a chance de cair em golpes enquanto aguarda a padronização do parcelamento. Quando o serviço chegar, lembre-se de analisar taxas de juros, prazo total e Custo Efetivo Total (CET) antes de dividir suas compras.
O adiamento do Pix parcelado reforça a mensagem de que inovar no sistema financeiro exige, primeiro, blindar o ecossistema contra ameaças internas e externas. Ao equilibrar segurança e conveniência, o Banco Central espera entregar uma solução robusta que beneficie, de forma sustentável, consumidores, empreendedores e o mercado como um todo.