Desdenhada pelo governo federal desde o início da corrida pelas vacinas, a Coronavac foi oferecida, por intermediários, pelo triplo do preço durante uma reunião que contou com a presença do até então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello.
De acordo com as informações do jornal “Folha de São Paulo”, pelas mãos dos intermediadores, cada dose do imunizante sairia por US$ 28, um valor muito maior do que os US$ 10 dólares estabelecidos em contrato pelo Instituto Butantan, que adquiriu os imunizantes para o estado de São Paulo.
Além da informação, a “Folha” também divulgou um vídeo, que hoje se encontra em posse da CPI da Covid-19, onde é possível conferir os momentos finais da reunião entre Pazuello e os intermediadores da compra de vacinas.
Nas imagens, o até então chefe da Saúde afirma que o intermediador, identificado apenas como John, havia levado ao governo a oferta de compra de 30 milhões de doses da CoronaVac. Além disso, o general também comenta sobre um memorando de entendimento já assinado, ressaltando o “compromisso” do ministério de fazer o negócio.
“Nós estamos aqui reunidos no Ministério da Saúde, recebendo comitiva liderada pelo John. Uma comitiva que veio tratar da possibilidade de nós comprarmos 30 milhões de doses, numa compra direta com o governo chinês”, começa Pazzuello.
Na sequência, o general afirma que a negociação também abriria uma nova possibilidade de o país ter mais doses e mais laboratórios. “Vamos tratar na semana que vem. Mas saímos daqui hoje já com memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato”, completa no vídeo.
Negociação emperrada
Segundo a “Folha”, a carta de intenção de compra seria mesmo assinada. Todavia, por conta da troca de Pazuello por Marcelo Queiroga na liderança da Saúde, o documento ficou pendente. Ainda conforme o jornal, os intermediadores ficariam com uma comissão que variaria entre US$ 0,70 e 0,85 por dose.
Vídeo contradiz Pazuello
O vídeo revelado nesta sexta (16) desmente o que disse Eduardo Pazuello durante seu depoimento na CPI da Covid-19. Na ocasião, o ex-ministro afirmou que não negociava diretamente a compra de vacinas.
A fala dele foi feita no momento em que senadores que compõem a Comissão o questionaram se ele havia ou não participado da negociação da Pfizer.
” Eu sou o dirigente máximo, eu sou o decisor, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o Ministro”, disse Pazuello à época.
Leia também: Vendedor da Davati diz que propina seria destinada ao “grupo” do coronel Blanco