O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Percival Maricato, diz estar ciente que as ações tomadas pelos governos dos estados, a fim de frear a disseminação da Covid-19 no país, são essenciais. Todavia, ele alerta que essas medidas devem aumentar tanto o número de desempregos, quanto o número de empresas falidas.
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A fala vem porque não só ele, mas sim vários representantes, de inúmeros setores, afirmam que as novas restrições de circulação, em diversos estados do país, terão novos e dolorosos impactos na economia.
De acordo com Percival, em entrevista para o jornal “Folha de S.Paulo”, neste sábado (06), sem programas de manutenção do emprego definidos por parte do governo, baixo acesso ao crédito e com um volume crescente de contas a pagar, o receio é de que as empresas, principalmente as de pequeno porte, entrem em colapso financeiro.
Segundo ele, a consequência disso seria o aumento do número de demissões e de falências. “É difícil falar de planejamento financeiro nessa altura do campeonato, muita gente está tocando com a barriga para ver como vão sobreviver”, começou o presidente da Abrasel.
“Estamos com estabilidade de funcionários por seis meses, não estamos faturando e ainda temos que pagar bancos, proprietários dos imóveis, fornecedores, energia, IPTU e outros impostos. Ninguém tem dinheiro sobrando”, afirmou.
De acordo com ele, sem dúvida, as novas restrições aumentarão o número de empresas com necessidade de encerrar as atividades. “Já está todo mundo muito fragilizado, vindo de um momento de baixa e com muitas incertezas sobre o futuro”, disse o presidente.
Empresas: perda semelhante ao primeiro pico da pandemia
Segundo o último levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), apresentado na reportagem da “Folha”, estima-se que o comércio varejista de São Paulo, o maior do Brasil, possa registrar uma perda média de R$ 11 bilhões em março com as novas restrições das atividades não essenciais adotadas pela gestão do governador João Doria (PSDB).
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Este valor, segundo a federação, é semelhante aos impactos mensurados no recuo médio mensal de abril e maio de 2020, meses mais críticos da pandemia. Ainda de acordo com a FecomercioSP, nem mesmo as empresas que migraram parte das suas operações para o digital conseguiram elevar o faturamento ao ponto de suprir as perdas que tiveram com o fechamento das lojas físicas.
“Esse faturamento pode render de 10% a 30%, quando muito bem trabalhado. Então a internet e os aplicativos ajudam, movimenta funcionários e gasta o estoque parado, mas ainda assim, é insuficiente”, revelou a federação.
Ajuda apenas no papel
Outro fator que tira o sono dos empresários, de acordo com a reportagem do jornal, é a dificuldade de acesso, de fato, aos programas de auxílio durante a pandemia. De acordo com Joseph Couri, presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi), apenas 14% das pequenas empresas tiveram acesso a alguma linha de crédito.
À “Folha de S.Paulo”, Joseph pontuou que outra incerteza é quanto a majoração na tributação dos grandes bancos. Para ele, essa atitude pode fazer com quem procure crédito possa ter que pagar juros maiores do que os atuais.
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“É preciso uma conversa séria entre o sistema financeiro, o governo e o setor privado. Só assim será possível entender como as coisas devem caminhar”, afirmou o presidente do Simpi na reportagem. “Ninguém consegue suportar tantas idas e vindas”, finalizou.
Vacinas e plano sanitário
Por fim, todos os especialistas ouvidos pela reportagem foram enfáticos, dizendo que além do socorro financeiro, existe a necessidade de uma postura mais rígida das autoridades em relação às aglomerações nas ruas e às festas clandestinas.
Isso porque, de acordo com eles, não adianta fechar as portas dos lugares que estão restringindo movimento e horários e não ter apetite para combater praias ou festas clandestinas.
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“O governo precisa fazer um programa sanitário, se preocupar em trazer as vacinas, porque o número de mortes está aumentando e isso está causando pânico”, disse na reportagem da “Folha”, José Roberto Tadros, presidente Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Por fim, o líder da CNC conclui que também será necessário um plano bem estruturado de saneamento das empresas. “Somente desta forma poderemos lidar com situação calamitosa em que nos encontramos. Precisamos combater o nosso inimigo em comum”, finalizou.
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