Norte-americanos relatam últimos anos de escravidão

O Projeto Federal de Escritores veio à tona somente décadas após sua elaboração. O projeto conta a história dos último norte-americanos vivos, que relataram a época da escravidão no Estado da Geórgia, na região sul dos Estados Unidos da América (EUA).

 

Norte-americanos relatam últimos anos de escravidão. (Imagem: Biblioteca do Congresso Americano)

 

O projeto foi criado durante a gestão do ex-presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt (1933-1945), e faz parte de uma série histórica de iniciativas da administração na tentativa de reviver a economia americana após a Grande Depressão em 1929. A iniciativa conta com a participação de escritores profissionais e aspirantes, todos contratados pelo governo norte-americano para entrevistar ex-escravos idosos. 

Entre o período de 1936 a 1938, os entrevistadores percorreram 17 estados ouvindo histórias de homens e mulheres em idade avançada. A maior parte viveu a escravidão enquanto ainda eram crianças. Ao todo, foram coletadas duas mil narrativas datilografadas e enviadas para Washington. A princípio, o material viria a ser publicado na década de 1970 em meio ao fortalecimento dos Movimentos dos Direitos Civis que lutavam pela igualdade da comunidade negra nos EUA.

Mas somente hoje o material foi amplamente divulgado e está disponível para libre acesso no portal da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. No Brasil, uma parte desses relatos foram publicados no livro ‘Nascidos na escravidão: Depoimentos norte-americanos”. William McWhorter, um homem negro que morou na Geórgia, é um dos ex-escravos entrevistados. As memórias dele foram colhidas no ano de 1938, época em que ele tinha 78 anos de idade. 

William conta que quando viveu a escravidão, um dos principais motivos que resultavam em castigo era o fato dos negros tentarem aprender a ler e escrever, o que era proibido por lei na época. Ele ainda contou que se não fosse tão desvalorizado, que o senhor cortava a mão por essa e outras coisas. O único impedimento era a inutilidade e prejuízo que um escravo sem mão traria. 

O historiador especialista em escravidão, geopolítica e economia do século 19, os relatos colhidos pelo Projeto Federal de Escritores ajudaram a mudar a visão da sociedade sobre a época da escravidão, que foi, por anos, contada pelos olhos dos senhores. 

Mas de um lado, os historiadores passam a ter relatos em primeira mão das práticas de tortura no sistema agrícola baseado na monocultura de exportação, latifúndio e mão de obra escrava. Do outro lado, é possível começar a entender as estratégias pelas quais os escravos lutavam para manter a dignidade na família, nas práticas culturais, religiosas e da resistência. 

Laura Alvarenga

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