Metanol voltou aos noticiários brasileiros depois de dezenas de casos de intoxicação em 2025. A repercussão gera dúvidas: é preciso abandonar aquela taça de vinho no jantar ou a cerveja gelada do fim de semana? A resposta curta é “não”, desde que você escolha rótulos fiscalizados. No texto a seguir, explico como o metanol surge nas bebidas, quais sintomas indicam alerta vermelho e, principalmente, como manter o prazer do brinde sem colocar a saúde em risco.
O que é metanol e por que ele representa perigo?
O metanol é um álcool de uso industrial, incolor, inodoro e altamente tóxico quando ingerido. Pequenas doses podem levar a danos neurológicos permanentes e até à morte. Entre janeiro e outubro de 2025, o Ministério da Saúde registrou 59 suspeitas de intoxicação por metanol, com 11 confirmações laboratoriais e um óbito. A maioria dos casos ocorreu em São Paulo e Pernambuco, sempre ligada a bebidas de procedência duvidosa.
Durante a fermentação de frutas e cereais, forma-se naturalmente uma quantidade ínfima de metanol. Em indústrias regulamentadas, o processo é controlado para que o traço fique muito abaixo do limite legal (geralmente ≤ 0,4 g por litro em vinhos, por exemplo). O perigo real surge quando fabricantes clandestinos acrescentam o solvente deliberadamente ou falham na destilação de cachaças e licores.
Como o metanol aparece em cervejas e vinhos legais?
Cerveja e vinho são bebidas fermentadas, não destiladas. Isso significa que o teor natural de metanol nelas é mínimo e mantido sob vigilância de órgãos como Mapa, Anvisa e Secretarias Estaduais de Fazenda (por meio do selo fiscal). Em rótulos comerciais, as etapas de moagem, fermentação e maturação seguem protocolos padronizados que impedem níveis perigosos.
- Cervejas industrializadas: utilizam malte, lúpulo, leveduras controladas e monitoramento de temperatura, evitando formação excessiva de álcoois superiores.
- Vinhos de vinícolas registradas: a prensagem suave das uvas reduz a liberação de pectina, substância que poderia gerar metanol.
- Inspeção periódica: laboratórios credenciados analisam lotes antes da liberação ao mercado.
Logo, quem compra em supermercados, empórios ou bares que exigem nota fiscal praticamente não corre risco. A ameaça concentra-se em garrafas sem rótulo, vendidas a preços muito baixos ou em embalagens reutilizadas.
Sintomas de intoxicação: quando procurar ajuda médica
Os sinais de intoxicação por metanol costumam aparecer entre 12 h e 24 h após o consumo, porque o fígado leva tempo para converter o solvente em ácido fórmico, substância que causa acidose metabólica e lesões no nervo óptico.
- Dor de cabeça forte e persistente
- Náusea, vômito e dor abdominal
- Visão embaçada ou perda súbita da visão
- Confusão mental e sonolência
- Dificuldade para respirar em casos graves
Sentiu qualquer combinação desses sintomas depois de beber? Vá imediatamente a um pronto-socorro e, se possível, leve a embalagem da bebida. O tratamento pode incluir bicarbonato para corrigir a acidose, ácido fólico, etanol venoso (que bloqueia a metabolização do metanol) e, em situações críticas, hemodiálise. O antídoto fomepizol é padrão mundial, mas ainda aguarda registro no Brasil.
Como reconhecer bebidas adulteradas ou clandestinas
Identificar uma garrafa suspeita é a forma mais simples de evitar problemas. Fique atento a quatro sinais clássicos:
- Ausência de rótulo ou lacre: toda bebida legalizada exibe dados do produtor, lote e teor alcoólico.
- Preço muito baixo: valores até 50% inferiores aos praticados em supermercados merecem desconfiança.
- Embalagem violada ou amassada: tampa frouxa, selo rompido ou garrafa reciclada sugerem falsificação.
- Alteração de cor ou odor: ainda que o metanol não tenha cheiro, misturas caseiras podem apresentar aromas estranhos.
“Prefira sempre pontos de venda que emitem nota fiscal e conservam as garrafas em ambiente adequado.” — Conselho Federal de Química
Empresas do setor vêm oferecendo treinamentos rápidos a comerciantes sobre identificação de fraudes, e a vigilância sanitária incentiva denúncias anônimas pelo telefone 136.
Dicas práticas para consumir cerveja e vinho com segurança
Beber não precisa ser sinônimo de preocupação. Adote estas boas práticas:
- Compre rótulos conhecidos ou de vinícolas e cervejarias registradas no Mapa.
- Mantenha as garrafas armazenadas em local fresco, longe de luz solar e com a tampa intacta.
- Desconfie de vendedores ambulantes que oferecem “promoções relâmpago” sem embalagem original.
- Compartilhe informações sobre bebidas adulteradas com amigos e familiares; prevenção coletiva salva vidas.
- Se notar sabor errado, cheiro rançoso ou coloração turva fora do estilo, descarte a bebida.
Ao seguir esses passos, você reduz a praticamente zero a chance de se expor ao metanol. Aproveite a experiência sensorial que só um bom vinho ou uma cerveja artesanal equilibrada podem oferecer.
Panorama brasileiro e ações de fiscalização em 2025
Em resposta ao aumento das ocorrências, o Ministério da Saúde reforçou as inspeções em destilarias e bares, além de iniciar a compra emergencial de antídotos. A Polícia Civil montou forças-tarefa em São Paulo, Pernambuco e Goiás para rastrear fábricas clandestinas. As investigações apontam que grupos criminosos adicionam metanol para baratear o custo de produção de bebidas destiladas, repassando o perigo a consumidores desavisados.
Entidades de classe, como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, lançaram cartilhas explicativas sobre cerveja e vinho seguros, reforçando que as bebidas fiscais continuam confiáveis. O consumidor, portanto, tem papel fundamental: comprar de fontes legítimas e denunciar irregularidades.
Concluindo, a intoxicação por metanol é grave, mas facilmente evitável. Siga as recomendações, valorize marcas auditadas e mantenha seus brindes seguros e saborosos.