O ex-médico legista José Manella Netto se tornou réu na quarta-feira (03) após a Justiça Federal de São Paulo aceitar a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) pelos crimes de falsidade ideológica e ocultação de cadáver.
De acordo com o MPF, o ex-médico teria omitido, em um laudo assinado por ele em 1969, que Carlos Roberto Zanirato, um militante político que à época tinha 20 anos, morreu depois de sessões de tortura durante o regime militar.
Ainda conforme o órgão federal, José Manella teria omitido as causas da morte do jovem com um intuito: encobrir a responsabilidade dos agentes da repressão.
A causa da morte segundo o ex-médico
No relatório, que foi assinado por José Manella Netto e por outro médico, que já morreu, consta que o jovem teria cometido suicídio ao saltar na frente de um ônibus na zona leste de São Paulo.
Nesse sentido, o laudo assinado pelo ex-médico, afirma o MPF, oculta diversas lesões que não poderiam ter sido causadas pelo impacto do suposto suicídio, mas sim por agressões anteriores ao óbito.
Além disso, além de ocultar as agressões, os médicos ocultaram outro fato: o de que foram agentes da repressão que empurraram a vítima contra o ônibus, seis dias após as sessões de tortura terem iniciado.
Enterrado como indigente
Não suficiente, outra informação constada nas investigações foi a de que, “embora soubessem a identidade de Zanirato, os médicos registraram que a vítima era um desconhecido”.
Como isso, ele acabou sendo enterrado como indigente, longe dos olhos de qualquer um que pudesse notar as marcas de tortura. Por conta deste fato, o governo, antes do ex-médico ter virado réu, já havia sido condenado a indenizar a família.
Médicos na ditadura
Agora, o intuito é condenar o ex-médico, que teve seu exercício profissional cassado após responder a um processo disciplinar no Conselho Regional de Medicina de São Paulo, em 1994.
De acordo com o MPF, documentos elaborados por médicos do Instituto Médico Legal (IML) à época da ditadura colaboraram para a dissimulação das circunstâncias em que os opositores ao regime eram mortos.
Leia também: TRF nega pedido da OAB para derrubar quebra de sigilo do advogado de Adélio Bispo