A TV Globo acaba de dar um passo decisivo na convergência entre televisão e internet. A emissora confirmou o início das gravações de sua primeira novela vertical, formato pensado para celulares e redes sociais, que será protagonizada por Jade Picon. O projeto, ainda em fase de piloto, reúne episódios curtíssimos, direção de Adriano Melo e a promessa de alcançar o público que consome conteúdo no feed em poucos segundos. A iniciativa sinaliza não apenas uma mudança de linguagem, mas também um novo modelo de negócios capaz de expandir oportunidades para atores, roteiristas e marcas.
Como funciona a novela vertical e por que ela virou tendência
A novela vertical — também chamada de microdrama — é filmada no formato 9:16, o mesmo de um celular em pé. Cada capítulo dura entre três e cinco minutos, com cortes ágeis e reviravoltas que prendem a atenção em segundos. Embora pareça novidade no Brasil, a China popularizou o conceito em plataformas como Kuaishou e WeTV.
Os motivos para a ascensão são claros:
- Tempo de consumo reduzido: cabe em qualquer intervalo do dia.
- Experiência imersiva: ocupa toda a tela do celular.
- Alto potencial de compartilhamento em redes como TikTok e Instagram.
Para o telespectador jovem, acostumado ao scroll infinito, esses fatores tornam o microdrama mais atraente do que episódios tradicionais de 40 minutos. A Globo percebeu a oportunidade e resolveu testar o formato antes dos concorrentes nacionais.
Jade Picon: do Big Brother à protagonista de microdrama
Com 24 milhões de seguidores somando Instagram e TikTok, Jade Picon se tornou peça-chave na estratégia da emissora. A criadora de conteúdo estreou como atriz em 2023 na novela “Travessia”, escrita por Glória Perez, e agora assume seu primeiro papel principal em uma novela vertical. O envolvimento de um nome tão influente garante visibilidade instantânea no universo digital.
“Trazer a Jade para esse projeto foi natural. Ela entende a linguagem da internet e conversa diretamente com o público que queremos atingir”, explicou uma fonte do núcleo de projetos digitais da Globo.
Além de atuar, Jade participará da divulgação em seus perfis, lançando bastidores, teasers e entrevistas rápidas, tudo no formato vertical. A estratégia reforça a sinergia entre conteúdo e plataforma, aumentando o alcance orgânico da produção.
Detalhes da produção: direção, episódios e plataformas
Adriano Melo, conhecido por “Malhação: Toda Forma de Amar”, assume a direção do piloto, que terá três episódios iniciais. Segundo o cronograma interno, as gravações ocorrem em locações enxutas, com cenários reaproveitáveis e equipe técnica reduzida para acelerar a pós-produção.
Se o piloto agradar, a Globo planeja liberar novos blocos de capítulos nas seguintes plataformas:
- Globoplay: pacote de episódios disponíveis sob demanda.
- Gshow: página dedicada com extras e interações.
- TikTok: publicação seriada, aproveitando o algoritmo de descoberta.
O formato curto facilita testes de audiência: basta acompanhar métricas de retenção, compartilhamento e comentários para decidir sobre temporadas adicionais. Isso reduz riscos financeiros e permite ajustes rápidos no roteiro.
Impacto no mercado audiovisual brasileiro
Se a novela vertical da Globo alcançar números expressivos, outras produtoras deverão seguir o mesmo caminho, criando um ecossistema de microdramas nacionais. O movimento traz consequências importantes:
- Novas técnicas de atuação: close-ups constantes e velocidade de fala exigem outro tipo de performance.
- Roteiros enxutos: conflito exposto já na primeira cena, sem prévia explicação extensa.
- Oportunidades para anunciantes: inserções nativas podem aparecer em stories patrocinados ou desafios de hashtag.
Além disso, roteiristas ganham espaço para formatos experimentais, enquanto atores iniciantes encontram portas de entrada no streaming sem precisar disputar papéis em novelas tradicionais.
O que esperar do futuro: previsões e próximos passos
A Globo usará o piloto como laboratório para entender a elasticidade do formato. Se o sucesso se confirmar, especula-se que a emissora possa:
- Integrar enredos de novela vertical a novelas do horário nobre, criando universos compartilhados.
- Lançar concursos de roteiros abertos ao público com votação no TikTok.
- Firmar parcerias com operadoras móveis para pacotes de dados patrocinados.
Para o espectador, a vantagem é clara: mais opções de entretenimento que cabem no bolso, no tempo e na palma da mão. Já para a Globo, o retorno pode vir na forma de novos assinantes do Globoplay e maior relevância entre a geração Z.
Em síntese, a aposta em microdramas mostra que a televisão aberta entende a urgência de se reinventar. O sucesso — ou fracasso — deste piloto com Jade Picon servirá de termômetro para definir o ritmo de inovação no mercado audiovisual brasileiro.