Quando a aposentadoria bate à porta, cada centavo faz diferença. Por isso, a notícia de que a fraude no INSS desviou R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 acendeu o alerta máximo. A Controladoria-Geral da União (CGU) confirmou, em 2 de setembro de 2025, a abertura de 40 Processos Administrativos de Responsabilização contra 38 associações e três empresas de tecnologia. O objetivo é punir quem executou descontos indevidos diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Neste artigo você confere os detalhes da investigação, o impacto para os segurados e, principalmente, como se proteger.
Fraude no INSS: como o golpe movimentou R$ 6,3 bilhões
O esquema de fraude no INSS consistia em aplicar contribuições “fantasmas” em milhares de benefícios, sem qualquer autorização formal. Auditoria da CGU revelou que, de 31 entidades analisadas inicialmente, 24 apresentaram mais de 90% de descontos contestados pelos próprios segurados entre abril e julho de 2024. O valor total subtraído chegou a R$ 6,3 bilhões, segundo estimativa oficial.
Esse montante passou despercebido por anos por três motivos principais:
- Uso de sistemas eletrônicos que imitavam cadastros legítimos de filiados.
- Falta de verificação biométrica em grande parte dos processos de autorização.
- Dificuldade de parte da população idosa para acompanhar os extratos mensais.
“A ausência de confirmação biométrica foi a porta de entrada para a irregularidade”, ressaltou técnico da CGU responsável pela auditoria.
Quem está na mira da CGU e por que
Os 40 processos envolvem associações conhecidas nacionalmente e empresas que proveram tecnologia ao esquema. Destaque para:
- Sindnapi – Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos.
- Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, com autorização irregular para descontar mensalidades de 30.285 benefícios.
- Empresas de TI Soluções Power BI Software, CONFIA Tecnologia e Dataqualify, responsáveis por softwares que driblavam requisitos de segurança.
Os indícios variam de descontos indevidos a tentativa de faturar em benefícios de segurados já falecidos. Caso a investigação comprove dolo, as penalidades incluem multa milionária, proibição de firmar contratos públicos e, nos casos mais graves, dissolução da entidade.
Como funcionavam os descontos não autorizados
Para aplicar a fraude no INSS, as associações falsificavam fichas de filiação dentro de plataformas desenvolvidas pelas empresas investigadas. O processo simulava assinatura digital e dispensava biometria, item obrigatório desde 2020.
Com a “filiação” registrada, o sistema do INSS era instruído a descontar a mensalidade diretamente na folha. Em muitos casos, o valor variava entre R$ 15 e R$ 50, o que dificultava a identificação imediata por parte dos segurados.
Outro artifício era a segmentação por área rural. Beneficiários distantes dos grandes centros tinham menos acesso aos canais eletrônicos para contestar e, assim, o golpe se perpetuava.
Impactos para aposentados e pensionistas em 2025
Desde abril de 2025, todos os Acordos de Cooperação Técnica entre INSS e entidades de classe foram suspensos. A medida travou novos descontos sem consentimento e abriu caminho para restituições.
Até agosto, mais de 1 milhão de pedidos de reembolso foram registrados no aplicativo Meu INSS ou pela Central 135. A devolução acontece em folha, geralmente no mês subsequente à solicitação.
Para quem já sofreu com a fraude no INSS, o prazo de contestação permanece aberto. O segurado só precisa de CPF, número do benefício e extrato bancário para comprovar a retirada não autorizada.
Medidas do governo para blindar o sistema
Além dos processos da CGU, o Ministério da Previdência Social adotou ferramentas de biometria facial e validação por múltiplos fatores. A Dataprev integrou esses recursos ao sistema de consignações, impossibilitando o cadastramento de descontos sem foto em tempo real do beneficiário.
Outras ações em vigor:
- Exigência de confirmação em dois canais: aplicativo Meu INSS e SMS oficial.
- Auditoria periódica em todas as bases de dados dos acordos ainda vigentes.
- Capacitação de servidores para identificar padrões atípicos de descontos.
O ministro da Previdência salientou que “qualquer servidor público que tenha agido com negligência ou má-fé também responderá administrativamente”.
Como o segurado pode se proteger e denunciar
Prevenir é mais barato do que recuperar valores perdidos. Siga estas recomendações para ficar longe da próxima fraude no INSS:
- Verifique mensalmente o extrato de pagamento no Meu INSS.
- Desconfie de ligações pedindo dados pessoais ou senhas.
- Só assine autorizações de desconto em posse de toda a documentação.
- Guarde comprovantes de qualquer filiação ou contribuição sindical.
- Denuncie imediatamente irregularidades pelo 135 ou pela Ouvidoria da CGU.
Se identificar um desconto não reconhecido:
- Entre no aplicativo Meu INSS, selecione “Extrato de Pagamento” e clique em “Contestação de Desconto”.
- Anexe foto do extrato bancário ou contracheque que comprove a cobrança.
- Acompanhe o protocolo pela própria plataforma ou telefone 135.
As denúncias são confidenciais. O anonimato é garantido e acelera o surgimento de novas linhas investigativas.
Em síntese, a ofensiva da CGU contra a fraude no INSS mostra que o cerco está se fechando para quem tenta lucrar às custas de aposentados e pensionistas. Mantenha seus dados seguros, consulte seus extratos e, se necessário, denuncie. Cada ação individual fortalece a rede de proteção social que sustenta milhões de brasileiros.