Os filhos de Rita Lee, Antonio, Beto e João Lee, prestam homenagem para a cantora no primeiro Dia das Mães após morte. A artista faleceu no dia 8 de maio, após enfrentar um câncer no pulmão por cerca de dois anos.
Filhos de Rita Lee prestam homenagem em primeiro Dia das Mães após morte
O caçula, Antonio, mostrou um autógrafo da cantora e escreveu uma reflexão sobre a relação entre fã e ídolo. “Esse foi o ultimo autógrafo da minha mãe. Quando eu era pequeno, não entendia muito bem esse ritual. Pessoas surgiam do nada com papel e caneta, mãos meio trêmulas. Ficavam hipnotizadas enquanto minha mãe fazia uns rabiscos. Depois, pegavam o papel de volta e saíam chorando, emocionadas. Por que um papel com um nome assinado causava tanta comoção?”, questiona.
“Com o tempo, o autógrafo foi cedendo espaço para as selfies no celular e vídeos mandando recado. Mas, hoje, mais do que nunca, eu entendo o barato do autógrafo. O autógrafo é analógico. É uma relíquia, um pedaço daquele momento, uma prova viva com reconhecimento de firma que o encontro realmente aconteceu”, continua Antonio.
Ademais, o caçula recorda que Rita Lee nunca negou um autógrafo. “O pior que podia acontecer a um fã era chegar sem papel nem caneta e ela soltar o famoso “pô, bichô!?”. Um dia, enquanto visitava ela no hospital com meu filho Arthur, de 5 anos, o assunto veio à tona. Eu comentei que a vovó Rita tinha um autógrafo muito legal, com desenho de disco voador e tudo! Ele ficou animado: “Eu quero um autógrafo da vovó Rita!” E ela, claro, não negou. Coloquei no colo dela um papel e uma caneta. As mãos estavam fracas, o punho já não tinha a mesma flexibilidade de antes. Mas ela se lançou no desafio”, conta.
Dedicatória
De acordo com Antonio, o ritual de Rita era: fazer a dedicatória, a assinatura e, por último, a imagem de um disco voador, um dos assuntos preferidos dela. “Ela sempre se dedicava mais nessa parte. Enquanto terminava o desenho, reclamou que a mão não obedecia como queria. Não satisfeita com o disco, tentou desenhar outro mais para a direita, só para provar a si mesma que conseguia fazer um melhor. Até que desabafou: “A mão não tá indo, saco!”, conta.
“Foram milhares de vezes repetindo esse mesmo gesto. Milhares de folhas de papel espalhadas por aí que marcam um momento em que ela esteve presente. E sem saber que aquela seria a última vez, foi lá e assinou seu nome tão lindo. Dedicado a um grande fã que vai sentir muitas saudades da vovó. Feliz dia das Mães mais dolorido do mundo, mãezinha”, conclui Antonio.
Ritual
João, o filho do meio, relembrou quando a mãe foi diagnosticada com câncer no pulmão, momento que o fez tomar a decisão de voltar a morar com os pais. “Não pensei duas vezes. Queria colaborar e fazer tudo que fosse possível e necessário para ajudar minha mãe em sua recuperação. Durante esses dois anos, não desgrudei deles. Acompanhei-os em todas as consultas médicas, todos os dias de radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e nos dias em que ela ficou internada, era dos primeiros a chegar e só ia embora depois que ela dormia. Foram rotinas novas e situações difíceis, que nenhum filho sonha viver com sua mãe. Mas também vivi muitos momentos especiais”, diz.
“A dinâmica era sempre a mesma: todos íamos juntos para o quarto dela, esperávamos enquanto ela colocava pijama, escovava os dentes, tomava seus remédios e deitava na cama. Meus pais então faziam uma oração e no final eu ficava sozinho com ela no quarto, deitados na cama e olhando para o teto todo cheio de estrelinhas que brilham no escuro. Conversávamos até que ela pegasse no sono. Só então eu me levantava, dava a volta na cama, dava um beijinho na sua testa e falava bem baixinho no seu ouvido: “boa noite, te amo mãe”. Perdi a conta de quantas vezes falei que a amava nesses últimos anos. Continuei falando até seu último suspiro. Queria poder falar mais um monte de vezes hoje. Te amo mãe, onde quer que você esteja, para sempre! Feliz Dia das Mães”, declara.
Por fim, o primogênito, Beto, resgatou uma foto da infância: “Do outro lado desse Universo, no infinito do espaõ e do tempo, eu vou te ver novamente”.