Uma simples folha verde, confundida com couve, levou uma mulher ao óbito em outubro de 2025. O caso acendeu um alerta nacional sobre o risco de consumir plantas não identificadas. Embora intoxicações por hortaliças sejam raras, bastam alguns gramas da falsa couve para desencadear vômito, arritmia e insuficiência respiratória. Neste artigo você aprenderá a reconhecer a couve verdadeira, identificar possíveis plantas venenosas e adotar práticas seguras na horta, no mercado e na cozinha.
O caso que chamou atenção e o que sabemos até agora
Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, a vítima era uma mulher de 52 anos que cultivava hortaliças no quintal. Ela colheu um maço verde que acreditava ser couve verdadeira (Brassica oleracea var. acephala) para preparar um suco detox. Após ingerir a bebida, apresentou náusea intensa, salivação, queda de pressão e dificuldade para respirar. Mesmo levada com rapidez ao hospital, não resistiu.
Peritos coletaram amostras da planta e confirmaram tratar-se de Dieffenbachia seguine, conhecida popularmente como comigo-ninguém-pode. A espécie pertence à família Araceae, apresenta látex irritante e é considerada ornamental, não alimentícia. O acidente mostrou como a planta venenosa pode, à primeira vista, lembrar a hortaliça de folha larga consumida no dia a dia.
“O látex branco da Dieffenbachia causa edema de glote em poucos minutos. O perigo aumenta quando a pessoa bate a folha no liquidificador e consome o suco cru.” — Tenente Marcos, Corpo de Bombeiros-MG
Diferenças visuais entre couve verdadeira e a falsa couve
Observar detalhes morfológicos ajuda a evitar erros. Veja as principais características:
- Caule: a couve tem caule roliço, verde-claro e lenhoso apenas na base. A falsa couve exibe caule cilíndrico, suculento e manchado de branco.
- Folha: na couve, as folhas são opacas, com nervuras finas e bordas onduladas. A planta tóxica possui folhas cerosas, brilhantes e com manchas amareladas irregulares.
- Cheiro: quando amassada, a couve libera aroma típico de crucífera (levemente sulfuroso). Na falsa couve, surge odor fraco e o látex branco escorre imediatamente.
- Látex: a presença de seiva leitosa ao cortar ou dobrar a lâmina foliar é sinal de alerta; hortaliças comestíveis normalmente não apresentam látex.
Além disso, a couve forma botões florais amarelos na primavera, enquanto a Dieffenbachia gera espádices brancos envoltos por brácteas, comum em plantas ornamentais da família dos antúrios.
Sintomas de intoxicação e medidas de emergência
A ingestão da falsa couve provoca quadro agudo, que pode surgir em 5 a 20 minutos:
- Queimação intensa na boca e na garganta
- Edema de lábios, língua e glote
- Náuseas, vômitos e diarreia
- Dor abdominal e sensação de sufocamento
- Em casos graves: convulsões, arritmia e parada cardiorrespiratória
Diante desses sinais, lave a boca com água corrente e não provoque vômito. Procure imediatamente o pronto-socorro ou ligue para o Centro de Informação Toxicológica (CIT), telefone 0800-722-6001. Leve uma amostra da folha para facilitar o diagnóstico. A terapia inclui hidratação, analgesia e controle da via aérea, podendo exigir intubação.
Boas práticas para colher, comprar ou plantar com segurança
Grande parte dos acidentes pode ser evitada com ações simples:
- Identifique cada muda no jardim com etiquetas resistentes à chuva.
- Compre sementes e mudas apenas de viveiros registrados no Ministério da Agricultura.
- Na feira, observe cheiro, cor e consistência. Recuse folhas moles, brilhantes demais ou com manchas brancas.
- Lave as mãos após manusear qualquer planta ornamental. O látex pode causar irritação ocular.
- No liquidificador, misture folhas com água primeiro, sem açúcar ou outros ingredientes. Experimente pequena quantidade antes de consumir todo o suco.
- Ensine crianças e idosos a não colher plantas sem supervisão.
Quem mora em apartamento pode optar por vasos altos ou hortas verticais, reduzindo o risco de pets e crianças alcançarem espécies tóxicas.
Quando procurar ajuda especializada e onde obter informação confiável
Mesmo diante de suspeita leve, a orientação profissional é indispensável. Além dos hospitais, o Brasil possui 36 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) que funcionam 24 h. O serviço indica primeiros socorros por telefone e orienta médicos sobre antídotos.
Para evitar novas tragédias, a Sociedade Brasileira de Toxicologia recomenda que prefeituras promovam campanhas educativas em feiras livres e que escolas incluam no currículo noções básicas de identificação vegetal. Universidades públicas, como a UFMG e a USP, oferecem cursos de curta duração em botânica aplicada à segurança alimentar, abertos à comunidade.
Por fim, lembre-se: se houver dúvida sobre qualquer folha, não coma. A verdadeira couve é nutritiva, rica em cálcio e vitamina C, mas só a prudência garante que o alimento chegue à mesa sem risco.
Palavras-chave trabalhadas: falsa couve, planta venenosa, couve verdadeira, identificar plantas.












