Golpistas migraram do dinheiro vivo para o celular, mas o bloqueio de chaves Pix já começou a fechar o cerco. Desde 4 de outubro de 2025, o Banco Central determinou que instituições financeiras neguem automaticamente transferências para chaves marcadas como suspeitas. A medida faz parte de um pacote de proteção que inclui limite de valores, botão de contestação e melhorias no Mecanismo Especial de Devolução. Entenda, passo a passo, o que muda para quem paga, para quem recebe e para quem fica no meio do caminho entre uma fraude e a recuperação do dinheiro.
Por que o Banco Central decidiu bloquear chaves Pix agora?
Em 2024, o número de reclamações sobre fraudes no Pix cresceu quase 35% segundo dados do Banco Central. Investigadores da Polícia Federal, em operações como Carbono Oculto, Quasar e Tank, rastrearam mais de R$ 50 bilhões em transferências suspeitas envolvendo fintechs. O golpe mais comum é o “falso funcionário”, em que o golpista pede que a vítima faça um Pix para “verificar” a conta. Para estancar esse tipo de crime, o BC criou o bloqueio de chaves Pix com base nas informações enviadas pelos próprios bancos e instituições de pagamento.
Nas palavras do BC, em ata do Fórum Pix de setembro de 2025, o objetivo é “proteger o usuário e garantir a confiança no meio de pagamento que mais cresce no país”. Com cerca de 300 integrantes, o Fórum reúne representantes do setor financeiro, fintechs e sociedade civil.
Como funciona o bloqueio de chaves Pix na prática?
Quando um banco identifica indícios ou comprovação de fraude, ele pode marcar o CPF, CNPJ ou a própria chave Pix do suspeito. A marcação entra em um cadastro compartilhado em tempo real entre todas as instituições participantes do sistema de pagamentos instantâneos.
- Se alguém tentar transferir dinheiro para uma chave sinalizada, o aplicativo emite erro e impede a operação.
- O bloqueio permanece enquanto durar a investigação, podendo ser liberado depois, caso se prove que não houve fraude.
- O cliente prejudicado recebe orientação para acionar o botão de contestação a fim de recuperar os valores perdidos.
O bloqueio de chaves Pix não impede o usuário de sacar ou usar outros meios de pagamento, mas restringe o recebimento de novos Pix enquanto a chave estiver sinalizada.
Limites, botão de contestação e outras barreiras contra fraudes
O bloqueio não veio sozinho. O Banco Central adotou três reforços adicionais:
- Limite de R$ 15 mil para Pix e TED destinados a instituições de pagamento não autorizadas, em vigor desde setembro de 2025.
- Bloqueio preventivo de transferências para contas classificadas como suspeitas, obrigatório até 13 de outubro de 2025.
- Botão de contestação nos aplicativos, ativo desde 1.º de outubro, que utiliza o Mecanismo Especial de Devolução (MED).
Ao acionar o botão, o usuário preenche um formulário simples. Em seguida, o banco do recebedor bloqueia o valor disponível, total ou parcialmente. As duas instituições têm sete dias corridos para analisar o caso. Se confirmarem o golpe, o dinheiro volta à conta da vítima em até 11 dias.
“Queremos que o pedido de devolução seja tão simples quanto foi o envio do Pix”, disse o diretor de Relacionamento do BC, Maurício Moura, em coletiva no lançamento do MED.
Quando vale a pena usar o botão de contestação?
O MED foi criado para golpes, fraudes ou coerções, como sequestro relâmpago. Ele não serve para:
- Erros de digitação (envio para chave errada por distração);
- Arrependimento de compra ou doação;
- Desacordo comercial (produto não entregue, por exemplo);
- Transferências entre pessoas de boa-fé.
A vítima tem até 80 dias para acionar o recurso. Já o recebedor dispõe de 30 dias para apresentar defesa caso considere o bloqueio indevido. Se o valor não estiver mais na conta, bloqueia-se o saldo disponível e segue a análise.
O que muda no Mecanismo Especial de Devolução em 2025
O Banco Central anunciou duas melhorias programadas:
- Devolução múltipla: a partir de 23 de novembro de 2025, será possível devolver valores por meio de contas diferentes daquelas que receberam o dinheiro. A funcionalidade será opcional até fevereiro de 2026, quando se tornará mandatória.
- Rastreamento em cadeia: o MED passará a mapear todas as contas por onde o recurso fraudulento circulou, compartilhando dados com os bancos envolvidos. Isso facilita encontrar laranjas e identificar organizações criminosas.
Essa evolução deve elevar a taxa de recuperação de valores e desestimular o uso de contas de fachada em novos esquemas de lavagem de dinheiro.
Dicas de segurança para evitar cair em fraudes no Pix
Ainda que o bloqueio de chaves Pix seja um avanço, a melhor defesa continua sendo a prevenção. Adote práticas simples no dia a dia:
- Habilite a verificação em duas etapas no aplicativo do banco;
- Desconfie de mensagens urgentes que pedem dinheiro, mesmo se vierem de contatos conhecidos;
- Jamais compartilhe senhas ou códigos de autenticação por telefone ou aplicativos de mensagens;
- Prefira digitar a chave Pix em vez de clicar em links desconhecidos;
- Cadastre limites diários e noturnos para transferências.
Se perceber atividade suspeita, entre em contato imediato com o suporte do banco e registre boletim de ocorrência. Quanto mais rápido agir, maiores as chances de o MED recuperar o valor.
Com essas mudanças, o Banco Central reforça o compromisso de tornar o Pix um ambiente cada vez mais confiável. Fique atento às atualizações, adote boas práticas de segurança e aproveite a agilidade das transferências sem abrir brechas para golpistas.