A teoria Funcionalista visa estudar os meios de comunicação de massa no seu conjunto. Consiste em definir os problemas que os meios de comunicação de massa podem causar para a sociedade, do ponto de vista do seu funcionamento, e também da contribuição que os meios de comunicação fornecem à sociedade.
A mudança crucial no conceito dessa teoria corresponde ao afastamento da ideia de que há um efeito intencional ou um propósito na conduta comunicativa, o qual seria subjetivamente almejado pelos mass media.
Desse modo, os meios de comunicação não estariam procurando estabelecer a atenção do público para fazer agregar a concentração nos resultados explicitamente averiguáveis da ação dos mass media sobre a população em toda a sua coletividade ou em seus subsistemas.
Assim, a alteração diz respeito ao fato de que a teoria funcionalista, ao mesmo tempo que transfere seus esforços para o entendimento das funções e não mais dos efeitos dos mass media, relaciona-se a outra conjuntura comunicativa: as funções analisadas não estão agregadas a contextos comunicativos específicos, mas à existência cotidiana dos meios de comunicação em massa na sociedade.
A teoria funcionalista, portanto, ocupa um lugar indispensável na elucidação do conjunto de problemas relacionados aos mass media, partindo da ótica da sociedade e sua perspectiva de funcionamento, assim como seu equilíbrio no geral e em como os meios de comunicação de massa dão vida a esse funcionamento.
Não seria mais interessante, na perspectiva dessa teoria, o exercício interno dos processos comunicativos que determinariam os espaços de relevância para outras teorias dos mass media, mas sim a atuação dos meios de comunicação em massa na sociedade e o papel que nela desempenhariam.
A mídia seria, nesse sentido, entendida como um organismo cujos distintos fragmentos desempenhariam funções de preservação e integração do sistema, sendo as relações funcionais ativadas pelos indivíduos e subsistemas essenciais e responsáveis pelo equilíbrio e estabilidade desse conjunto.
Nessa perspectiva, pode-se relacionar o papel ativo da mídia durante a investigação Lava Jato e como a Teoria Funcionalista entende esse papel de ator social dos mass media. Como elucida o trecho acima, certas pessoas, grupos ou tendências sociais podem ser legitimadas ao receberem apoio dos meios de comunicação de massa. Esse exemplo ocorreu na operação, quando se viu claramente uma cobertura da mídia extensa e atenta aos acontecimentos da operação, de modo a prestigiar a população brasileira que estava insatisfeita com a corrupção.
Ao contrário da Teoria Hipodérmica, já ultrapassada por tantas outras teses, a mídia não teria como intuito a maquiavélica manipulação do público de forma a utilizá-los como “massa de manobra”, mas seria um acréscimo de ator político na luta pelo poder e na vida em sociedade.
É necessário acreditar que, na cultura de massa, os públicos tenham capacidade de reflexão e que possam construir concepções acerca dos produtos consumidos pela indústria cultural. Além disso, que a própria indústria, seja outro ator a se expressar e gerar suas possíveis consequências na sociedade.
Obviamente, essa expressão dos mass media não seria isenta de quaisquer intenções ou dispensada da interferência de tantos outros agentes sociais – sejam eles públicos ou não –, mas seria significada como advento natural da própria comunicação de massa.
Desse modo, refuta-se os argumentos advindos da Teoria Hipodérmica para explicar a extensa agenda setting da mídia no que remete à operação Lava Jato, pretendendo-se contemplar como a Teoria Funcionalista poderia explicitar a ação social dos meios de comunicação de massa no decorrer da operação.
Afinal, houve alguns episódios marcantes para a mídia nesse ínterim. O vazamento do áudio do ex-presidente Lula, por exemplo, foi transmitido pelos mass media, sem até a autorização correta e procedimentos legais. Ou até mesmo o áudio do empresário Joesley Batista com o atual presidente Michel Temer, o qual também foi amplamente divulgado pelos mass media, de forma que, aparentemente, eles estariam cumprindo sua “função social” e corroborando com a população no geral, majoritariamente insatisfeita com a corrupção.
Segundo a hipótese dos “usos e satisfações”, o receptor agiria sobre a informação que recebe e a utilizaria, transformando-se num sujeito ativo e autônomo, ao contrário do descrito na Teoria Hipodérmica. Nesse processo, tanto o emissor, quanto o receptor seriam pares ativos.
No caso da Lava Jato, é importante considerar a Teoria Funcionalista para explicar o funcionamento e as atividades sociais no país, ainda mais se tratando de uma mídia tão atenta a esse assunto e tão operante e funcional no que se diz respeito à divulgação dos acontecimentos.
REFERÊNCIAS
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WOLF, Mauro. (1987). Teorias da Comunicação. Lisboa. Editorial Presença.