A mulher negra vítima de violência policial durante uma ocorrência em maio de 2020, na Zona Sul de São Paulo, foi denunciada pela promotora de Justiça Flavia Lias Sgobi, na terça-feira (19), por quatro crimes durante cometidos durante o fato.
À época da confusão, vídeos divulgados pelo programa “Fantástico”, da “TV Globo”, mostraram a ação dos agentes da Polícia Militar (PM). Na ocasião, a mulher disse à emissora carioca que, quanto mais ela se debatia, mais o agente apertava a botina em seu pescoço.
Na entrevista, ela chegou a citar o caso do americano George Floyd, um homem negro assassinado pelo policial branco Derek Chauvin, em maio de 2020. “Achei que iria ser morta como o George Floyd. Eu estava no chão e lembrava daquela cena dele”, disse a vítima.
Policiais estão livres
Depois do caso, que ganhou repercussão mundial, a Justiça Militar abriu um processo contra os policiais militares por lesão corporal, abuso de autoridade, falsidade ideológica e inobservância de regulamento. Hoje, eles estão livres e afastados das atividades de rua da PM – eles estão trabalhando internamente na corporação.
Denúncia contra a mulher
Na denúncia oferecida contra a mulher, a promotora diz que ela é suspeita de ter cometido quatro crimes:
- Infração de medida sanitária preventiva;
- Desacato;
- Resistência
- E lesão corporal contra os policiais militares.
Segundo a promotora, a denúncia ocorreu porque o caso aconteceu por conta do desrespeito da mulher negra e outros dois homens às medidas sanitárias vigentes à época.
Todavia, um fato na história causa estranheza. A denúncia da promotora leva em conta a versão dada pelos agentes da PM no dia do fato, sem que as imagens tivessem vindo à tona. O problema é que, de acordo com uma denúncia do Ministério Público Militar, os policiais mentiram na delegacia.
Advogado da vítima se diz perplexo
Por conta disso, em entrevista à “TV Globo”, Felipe Morandini, advogado da vítima, afirma que recebeu a notícia da denúncia com perplexidade. “Em acompanhamento processual, para minha surpresa e estarrecimento, recebi a notícia de que minha cliente foi denunciada pelos crimes de infração à medida sanitária preventiva, desacato, resistência e lesão corporal em face dos Policiais Militares que a agrediram, de forma brutal”, afirmou Morandini.
Em outro momento, ele afirma que, mesmo após a notícia sobre o fato ter se espalhado pelo mundo, o Ministério Público se baseou nas informações supostamente falsas do Boletim de Ocorrência. “Trabalharei incansavelmente pela defesa da comerciante, e principalmente, para que esta denúncia seja rejeitada pelo juízo. Não é, e não pode ser, possível que fatos notórios como estes sejam ignorados pelo Órgão Ministerial no momento de denunciar qualquer um que seja”, concluiu o defensor.
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