A médica pediatra intensivista Manuela Monte afirmou que a onda de Covid-19 provocada pela variante Ômicron é a que mais matou crianças na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) onde trabalha, em Fortaleza, no Ceará. A declaração foi dada em entrevista à BBC Brasil.
No seu relato, Manuela contou sobre quando dois bebês morreram de Covid-19 com intervalo de menos de dois dias durante o pico da Ômicron no país, em janeiro deste ano. “Eles internaram no mesmo dia, chegando ao hospital já em estado grave. Fizemos de tudo, mas um deles morreu em menos de 24 horas. O outro morreu no dia seguinte”, disse Monte.
“Perdemos dois bebês em menos de dois dias. Bebês que eram saudáveis antes de ter covid. Foi um dos momentos mais difíceis. Abalou muito a equipe”, completou a médica do Hospital Infantil Albert Sabin.
Manuela Monte informou também que a UTI pediátrica de Covid-19 ficou lotada durante todo o mês de janeiro, enquanto o mesmo não foi visto na UTI para adultos com a doença, o que evidencia a alta de casos provocados pela Ômicron entre crianças.
“Tem vindo crianças de todas as faixas etárias com covid. E tivemos casos graves em crianças que não tinham nenhum problema de saúde. Por causa do sistema imune abalado pela covid, acabaram pegando infecção bacteriana, pneumonia ou meningite antes de chegar ao hospital”, disse a intensivista.
Crianças não vacinadas são alvo da Ômicron
Na avaliação da médica, o fato de a Ômicron ser a variante mais transmissível do novo coronavírus desde o começo da pandemia, combinado ao fato de que a maioria das crianças ainda não foi vacinada contra Covid-19, contribuem para a alta de casos graves da doença no público infantil. “A Ômicron se propaga de maneira mais fácil, o que acabou expondo as crianças”, explica a médica.
Após observar o aumento de casos de Covid-19 grave em crianças, a médica faz questão de combater a crença de que a Ômicron seria uma variante com consequências mais leves. Para Manuela, isso dá uma “falsa sensação de segurança” e pode fazer com que pais e responsáveis demorem para levar os pequenos ao hospital.
“Temos verificado que algumas crianças infectadas pela Ômicron ficam com imunidade muito afetada durante a infecção e acabam desenvolvendo outras doenças, como pneumonia”, afirmou a pediatra. “Vemos um atraso na busca por ajuda médica. E quanto antes a gente age, maior a chance de recuperação”, finalizou Manuela.