Em podcast postado pela Globo Livros, Roberto de Carvalho conta que Rita Lee não conversava sobre morte com o marido. Os dois evitavam o assunto, especialmente após o diagnóstico de câncer da artista. A rainha do rock morreu no dia 8 de maio, aos 75 anos.
Rita Lee não conversava sobre morte com Roberto de Carvalho
No podcast, o músico desabafou sobre a falta da cantora quase um mês após a morte. “Eu estava na Granja outro dia, pensando: ‘Morreu a coelha’… Morreu um pedaço de mim com ela e esse pedaço é grande”, lamenta. “Apesar de ser o cara que estava ali, o João (Lee, filho do casal) era mais cerebral que eu. Apesar de ser canceriano, emotivo, ele tinha mais equilíbrio emocional que eu, sem sombra de dúvidas”, declara.
“Por exemplo: toda essa questão que a gente conversava sobre finitude, no momento em que a doença se materializou, foi tudo por água abaixo. Eu não conseguia conversar com a Rita sobre a questão em si. Eu me encolhia mais ainda, e ela evitava de falar sobre isso comigo porque eu travava na mesma hora, ela evitava de falar”, explica Roberto, então.
Biografia
Recentemente, em artigo escrito para o site LuLacerda, Roberto comentou o sucesso da nova biografia de Rita Lee e afirmou que não sabia o que estava escrito. “(…) Eu sempre tive o hábito, por pudor e respeito, de não ler ou invadir as coisas da Rita, a menos que ela assim o desejasse, portanto, não havia lido sequer uma linha do novo livro. Mas ali estava o livro, pronto. E que surpresa”, declarou.
A nova biografia foi lançada dia 22 de maio, ou seja, alguns dias após a morte. Roberto diz que o livro o ajudou a lidar com o luto, já que a forma que Rita escreveu sobre a própria doença e os últimos anos de vida o fizeram olhar a situação de outra forma. “Todas aquelas situações tenebrosas que nos aterrorizaram durante os dois anos em que durou a doença, havia, como num passe de mágica, se transformado numa narrativa bem-humorada, inteligente, sarcástica, despida de dramalhões, sacadas incríveis, momentos de assombração, quase virando piadas. A história toda recebeu uma camada irresistível de pirlimpimpim; tudo ficou de uma leveza insustentável – genialidade total!”, elogiou.
“Esta era a magia da Rita: seu talento, sua maestria alquímica em pegar chumbo pesado e transformar em puro ouro 24 quilates. Minha alma se acalentou. Me senti até um pouco ridículo por estar tão impregnado de pensamentos apocalípticos e resolvi, a todo o custo, me embebedar daquela narrativa tão mais saudável, esperançosa, bela, orgânica e, porque não dizer, útil – muito útil, um elixir antissofrimento. Mas a doença foi se agravando. E, por fim, meu amor partiu. Eu me parti ao meio”, desabafou, por fim.