De acordo com um estudo do Instituto Butantan, o Brasil desempenhou um importante papel na disseminação do novo coronavírus, causador da Covid-19, em países vizinhos e no mundo.
Para chegar a tal conclusão, o instituto analisou a dinâmica de introdução do vírus no país a partir do sequenciamento de 3.866 genomas do novo coronavírus. As amostras foram colhidas em todos os estados brasileiros entre fevereiro de 2020 e junho de 2021.
Os resultados obtidos apontam que o Brasil colaborou para disseminar a Covid-19 por conta da falta de restrições sanitárias efetivas, principalmente em relação às viagens internacionais, pois o país demorou para fechar as fronteiras aéreas e terrestres, além de ter flexibilizado as barreiras sanitárias em alguns momentos da pandemia.
A pesquisa aponta que o começo da pandemia foi caracterizado pela circulação de diversas linhagens diferentes do novo coronavírus ligadas a várias importações, sendo a maior parte delas na Europa, o que ocorreu antes da imposição de medidas de restrição social, em abril de 2020. “Elas [variantes] não chegaram só em um lugar, elas circularam por todo o país”, aponta Maria Carolina Sabbaga, vice-diretora do Centro de Desenvolvimento Científico do Butantan.
Em agosto do ano passado, quando medidas preventivas já estavam sendo tomadas, ocorreram mais 33 eventos de introdução do coronavírus, indica a pesquisa. “As medidas de restrição poderiam, por exemplo, ter sido feitas antes. É importante falar que o vírus respiratório é bem complicado de manter [restrito], mas outros países conseguiram controlar melhor”, avalia Maria Carolina. Os resultados foram publicados em um artigo na plataforma de preprints MedRxiv.
Brasil exportou variantes do coronavírus a outros países
O estudo ainda aponta que o Brasil foi um grande exportador de variantes do coronavírus a outros países, com ao menos 316 eventos de exportação da variante Gama (antes chamada de P.1 ou amazônica) e 32 eventos da variante Zeta (antiga P.2).
“Vieram as medidas de restrição mais fortes, mas essas medidas depois foram aliviadas por uma série de razões. O que acontece? Aparece uma variante de preocupação muito grave, que foi a gama lá em Manaus, e se espalhou primeiro pelo Brasil e internacionalmente”, relembra a pesquisadora.
A região sudeste do país foi a maior contribuinte de trocas virais para outras regiões, correspondendo a 40% das trocas. Em seguida, aparece a região Norte, com 25% dos movimentos virais no país. Segundo o estudo, a flexibilização de viagens nacionais e internacionais, que aconteceram em determinados momentos da pandemia, foram os principais responsáveis pela introdução de novas variantes do coronavírus.
A variante Gama, com maior predominância no Brasil ao longo da pandemia, emergiu por volta de 21 de novembro em Manaus, de acordo com a análise filogeográfica da cepa. Já a variante Zeta, que inicialmente era apontada como tendo surgido no Rio de Janeiro, na verdade, surgiu no Paraná no final de agosto de 2020, diz a análise.
“Esse sequenciamento genômico é importante porque ele permite que a gente veja e rastreie como o vírus está se espalhando e como ele está evoluindo. Com isso, a gente pode ajudar as autoridades de saúde pública a definir as estratégias de controle. O nosso papel é informar as autoridades de saúde pública com esses estudos para que as decisões adequadas sejam tomadas para mitigar essa pandemia”, explica Maria Carolina.