Se o orçamento apertou e você precisa de dinheiro rápido, duas alternativas costumam aparecer: o saque-aniversário do FGTS e o empréstimo consignado CLT. Embora ambos utilizem direitos do trabalhador como base, eles funcionam de formas bem distintas. Escolher sem analisar detalhes pode custar caro. Neste guia, você vai descobrir como cada modalidade opera, quais são os custos ocultos e em que situações uma é mais vantajosa que a outra.
O que é o saque-aniversário do FGTS?
Implementado em 2020, o saque-aniversário do FGTS permite retirar, todos os anos, uma parte do saldo do Fundo de Garantia no mês de aniversário do trabalhador. O percentual varia de 5% a 50%, acrescido de uma parcela fixa, conforme o valor total depositado. A adesão é opcional e pode ser feita no aplicativo FGTS ou em agências da Caixa.
- Disponibilidade: o dinheiro cai até o último dia útil do mês de nascimento.
- Custos: não há juros, mas o saldo retirado deixa de render 3% ao ano + TR.
- Risco: ao ser demitido sem justa causa, o trabalhador NÃO recebe o saldo integral; recebe apenas a multa de 40%.
- Carência para voltar ao regime tradicional: dois anos a partir da solicitação de retorno.
“O saque-aniversário é atraente pela liquidez imediata, mas a perda de proteção em caso de demissão costuma passar despercebida”, alerta o educador financeiro Gustavo Cerbasi.
Além da retirada anual, muitos bancos oferecem a antecipação do saque-aniversário, transformando o saldo futuro em garantia de empréstimo. Nesse caso, a instituição cobra juros médios de 1,05% a 1,49% ao mês, descontados diretamente do FGTS a cada aniversário.
Como funciona o empréstimo consignado CLT?
O empréstimo consignado CLT é um crédito com parcelas descontadas na folha de pagamento do trabalhador registrado. Sua taxa de inadimplência é baixa, pois a empresa repassa o valor ao banco antes de depositar o salário.
- Taxas de juros: variam de 1,2% a 2,4% ao mês, bem menores que o crédito pessoal convencional.
- Prazo: até 48 ou 72 parcelas, dependendo da instituição.
- Margem consignável: limite de 35% do salário, sendo 30% para empréstimos e 5% para cartão consignado.
- Requisitos: vínculo empregatício ativo, tempo mínimo de registro (geralmente 3 meses) e convênio da empresa com o banco.
Caso o empregado seja demitido, o contrato prevê quitação antecipada ou migração da dívida para boleto – com risco de juros mais altos. Por isso, a recomendação é manter reserva de emergência para não inadimplir.
Comparativo: custos, riscos e benefícios
Para entender qual opção pesa menos no bolso, compare os principais pontos:
- Custo efetivo total (CET)
Saque-aniversário do FGTS: zero juros, mas há oportunidade de rendimento perdido. Em 5 anos, o saldo renderia cerca de 16% líquidos.
Consignado CLT: juros médios de 18% a.a., porém o dinheiro do FGTS continua intacto e protegido. - Liquidez imediata
Saque-aniversário do FGTS: disponível anualmente; antecipação libera todo o valor em poucos dias.
Consignado CLT: liberação em até 24 h após aprovação. - Proteção em caso de demissão
Saque-aniversário do FGTS: perda do direito ao saldo integral.
Consignado CLT: saldo do FGTS permanece para emergências; dívida pode ser renegociada. - Burocracia
Saque-aniversário do FGTS: adesão pelo app; antecipação requer banco parceiro.
Consignado CLT: exige convênio da empresa e análise de crédito.
Em termos de custo, o saque-aniversário parece gratuito, mas é preciso considerar que o FGTS é uma reserva compulsória. Retirá-la hoje significa abrir mão de um colchão financeiro em caso de desemprego e do potencial rendimento acima da poupança, caso haja distribuição de lucros do Fundo.
Quando vale a pena cada modalidade?
Não existe resposta única, mas alguns cenários servem de orientação:
- Necessidade pontual e pequena
Se o valor do projeto ou da dívida cabe na parcela anual do saque-aniversário do FGTS, ele pode ser a saída, pois evita juros. - Valores altos ou parcelamento longo
Projetos como reforma ou quitação de outras dívidas podem justificar o consignado CLT, sobretudo quando a taxa oferecida é inferior a 1,8% ao mês. - Profissional com risco de demissão
Quem atua em setores instáveis deve evitar o saque-aniversário, preservando o saldo integral do Fundo para emergências. - Dívidas caras (cheque especial, rotativo)
Qualquer uma das duas opções ajuda. Porém, compare o CET: se a antecipação do FGTS cobrar menos que o consignado, escolha a menor taxa.
Importante: tanto a antecipação quanto o consignado são créditos. Use apenas para gerar economia (trocar dívidas caras) ou investir em algo que traga retorno. Comprar supérfluos a prazo costuma gerar novo endividamento.
Dicas finais e alternativas para proteger seu bolso
Antes de bater o martelo, siga estes passos:
- Liste todas as dívidas, juros e prazos. Visualizar o peso real ajuda a escolher o crédito mais barato.
- Solicite simulações em pelo menos três bancos. Pequenas diferenças de taxa geram grande economia no longo prazo.
- Calcule o impacto no orçamento. A parcela não deve comprometer mais do que 30% da renda líquida, somando todas as dívidas.
- Mantenha uma reserva de emergência de três a seis meses de gastos, mesmo que pequena. Ela evita novos empréstimos.
- Considere alternativas: venda de itens usados, renda extra ou renegociação direta com credores.
No fim das contas, o saque-aniversário do FGTS é interessante para quem tem segurança no emprego e precisa de quantias moderadas, enquanto o empréstimo consignado CLT atende valores maiores, com custo competitivo e sem sacrificar o Fundo. Avalie taxas, leia o contrato com calma e escolha a modalidade que traz economia hoje sem comprometer sua tranquilidade amanhã.












