O médico sanitarista e professor de Saúde Pública e Epidemiologia do Centro Universitário São Camilo, Sérgio Zanetta, afirmou que a recomendação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pela suspensão da temporada de navios de cruzeiro foi acertada, porém, tardia.
“A Anvisa toma uma decisão que já deveria ter sido prevista. Crônica de uma doença anunciada”, disse o médico em entrevista à CNN Brasil ontem (1°). Para ele, a circulação de navios de cruzeiro sequer deveria ter sido autorizada durante a pandemia de Covid-19.
“O problema é alguém autorizar a temporada de cruzeiros com o quadro epidemiológico que temos. Isso é totalmente fora de questão.”, acrescentou Zanetta.
O sanitarista ressaltou que, apesar de essenciais para prevenção de casos graves e mortes por Covid-19, as vacinas não evitam completamente a transmissão do coronavírus. Portanto, outros cuidados ainda devem ser tomados pela população.
“Enquanto houver transmissão sustentada da Covid, esse tipo de evento não é recomendável”, afirmou ele. “Realizar eventos em ambientes abertos ainda tem algum sentido, em ambientes confinados, como num navio, isso é totalmente fora de propósito”, completou.
Na avaliação de Zanetta, cruzeiros durante a pandemia funcionam como “armadilhas”, pois a maior parte dos navios é totalmente fechada, usando refrigeração que recircula o mesmo ar. Em um cenário assim, a disseminação do novo coronavírus é muito maior do que em locais abertos.
“É o que se poderia prever como uma situação já anunciada pelas circunstâncias. Mesmo que eu solicite comprovantes de vacinação e faça exames prévios, há algumas falhas possíveis”, disse Zanetta.
Anvisa recomenda suspensão da temporada de navios de cruzeiro
Ao justificar a recomendação pela suspensão temporária da temporada de navios de cruzeiro no Brasil, a Anvisa afirmou que os cruzeiros haviam sido liberados por conta do cenário epidemiológico observado antes da identificação da nova variante Ômicron.
“A retomada das operações dos navios de cruzeiro para a temporada de 2021/2022 foi prevista pela Portaria Interministerial CC-PR/MJSP/MS/MINFRA nº 658, de 5 de outubro de 2021, em cenário epidemiológico anterior à notificação mundial sobre a identificação da nova variante de preocupação, Ômicron, que foi relatada pela primeira vez à Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 24 de novembro”, disse a Anvisa em nota.
A decisão sobre a manutenção ou suspensão da temporada de cruzeiros agora está nas mãos dos ministros da Saúde, Justiça, Segurança Pública e da Infraestrutura, que receberam a recomendação da Anvisa na última sexta-feira (31).