Devido à pandemia da Covid-19 a dificuldade de conter a proliferação do vírus, as aulas presenciais foram paralisadas. As escolas precisaram se adaptar ao modelo remoto, mas nem todas as crianças se adaptaram ao novo formato.
Essas mudanças podem ter sido responsáveis pelo atraso de aprendizagem em até seis meses, sobretudo de crianças na faixa etária de quatro a cinco anos matriculadas no pré-escolar. A estimativa foi apresentada por pesquisadores que observaram os alunos antes e durante a crise sanitária causada pelo novo coronavírus.
O impacto maior foi notado junto a crianças que compõem grupos familiares em situação de vulnerabilidade social. Devido às circunstâncias precárias, o acompanhamento das aulas à distância foi mais difícil ou não aconteceu.
A preocupação agora gira em torno do amparo aos déficits causados, pois, caso não sejam tratados de imediato, a tendência é que se perpetuem por toda a trajetória escolar com o passar dos anos. Um estudo feito por pesquisadores também aponta que em determinados casos, quando houver o diagnóstico individual dos atrasos e esforço para a recuperação das habilidades, é possível reverter as perdas.
Pesquisadores também apuraram que o desenvolvimento de habilidades do ensino de matemática, linguagem, físicas e motoras durante a suspensão das aulas presenciais em 2020 também foram expressivas. No que compete a crianças que compõem famílias com um maior nível socioeconômico, os prejuízos correspondem a quatro meses de aprendizagem, enquanto aquelas de nível mais baixo estão com seis meses de atraso.
Este impacto educacional em crianças mais novas tem sido alertado há meses pelos educadores. Diante do domínio e autonomia reduzidos com o propósito de migração para as tecnologias, nitidamente, essa faixa etária foi a mais atingida pelas aulas online. A falta de acesso à internet com o devido auxílio de um adulto são os principais problemas que também já haviam sido manifestados.
Na oportunidade, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), se reuniram com o objetivo de entender o efeito da pandemia e do isolamento social no aprendizado das crianças de diferentes grupos sociais. A comparação foi feita entre o grupo de alunos que cursaram o segundo ano da pré-escola em 2019 e outro que estavam no mesmo estágio no ano de 2020.
Os resultados da análise só foram obtidos após realizarem uma série de testes individuais em 671 crianças de 21 escolas cariocas. Todas elas participaram dos testes em dois momentos, no intuito de identificar qual seria o melhor desenvolvimento no decorrer dos respectivos anos letivos. Também foram feitos questionários contextuais respondidos pelos responsáveis e professores.
De acordo com os testes, as crianças que passaram pelo segundo ano da pré-escola em 2020 aprenderam somente 66% da linguagem e 64% da matemática em comparação com o ano anterior. Em 2019, 76,7% das crianças que já cursavam o final do segundo ano do pré-escolar conseguiram distinguir o início da escrita e começar a ler um livro, ou apenas identificar simples palavras como “casa” ou “bola”.
Novamente em comparação com 2020, o desenvolvimento dessas habilidades foi de apenas 59,7%. Em 2019, 60% das crianças conseguiram identificar 18 letras do alfabeto, enquanto 45% fizeram o mesmo no ano passado. Já em matemática, 60% das crianças eram capazes de identificar números de dois dígitos, percentual que foi reduzido para 50% em 2020.