Quando a Globo celebrar 60 anos em 2025, o sentimento nostálgico deve dominar as telas. O Projeto Resgate, que já recuperou preciosidades do acervo, reacende a discussão sobre quais novelas antigas merecem furar o túnel do tempo e ganhar nova exibição – ou até remake. Mais que lembranças, essas tramas revelam como a teledramaturgia moldou costumes e espelhou o Brasil. A seguir, veja cinco títulos que justificam uma volta triunfal, com dados de audiência, contexto histórico e dicas de onde assisti-los hoje.
A força das reprises nos 60 anos da Globo
O apetite por novelas antigas não é apenas saudosismo. Entre 2020 e 2024, reprises no fim da tarde registraram até 20 pontos no Ibope, mostrando que há espaço para produções de outras décadas. Em 2025, a emissora deve intensificar o Projeto Resgate, digitalizando fitas, restaurando trilhas e liberando capítulos completos no streaming. Três fatores pesam a favor:
- Catálogo pronto para o Globoplay e para o canal Novelas.
- Público jovem que consome maratonas e redescobre clássicos.
- Mercado publicitário que valoriza conteúdos com alto engajamento social.
Somado ao avanço tecnológico – como upscaling para 4K – o cenário é propício para reviver tramas que, na exibição original, chegaram a mobilizar 9 entre 10 TVs ligadas.
Roque Santeiro: do veto da ditadura ao clamor popular
Escrita por Dias Gomes, Roque Santeiro deveria ter ido ao ar em 1975, mas foi vetada pela censura a 24 horas da estreia. Dez anos depois, em 1985, virou fenômeno cultural: média de 67 pontos e pico superior a jogos da Seleção Brasileira. A farsa do “santo milagreiro” interpretado por José Wilker e a viúva Porcina de Regina Duarte escancarou hipocrisias da cidade de Asa Branca.
“Se escapou do corte militar, escapará de qualquer coisa”, afirmou Dias Gomes, em entrevista de 1985, sobre a perenidade da obra.
Por que reprisar em 2025? O roteiro segue atual ao ironizar fake news e cultos à personalidade. Além disso, a versão remasterizada já está pronta no Globoplay, bastando ganhar espaço na grade para impactar uma geração que só conhece memes da trama.
Irmãos Coragem: aventura que ainda dialoga com 2025
Primeiro grande sucesso de Janete Clair, Irmãos Coragem foi ao ar em 1970, somando 328 capítulos. Apenas 130 sobreviveram, mas a narrativa de João, Jerônimo e Duda, mineradores que enfrentam o coronelismo em Goiás, permanece contundente. Temas como disputa por recursos naturais, violência no campo e união familiar continuam em pauta.
Uma releitura – ou até minissérie – poderia:
- Atualizar a discussão sobre sustentabilidade e mineração ilegal.
- Aproveitar a popularidade de séries de faroeste moderno em streaming.
- Homenagear Tarcísio Meira e Claudio Marzo, eternos protagonistas.
Enquanto a nova versão não chega, os episódios remanescentes estão em HD no canal Viva, garantindo que as novelas antigas permaneçam vivas na memória coletiva.
O Astro e Selva de Pedra: suspenses que pararam o país
Em 1977, O Astro virou mania nacional com o enigma “Quem matou Salomão Hayalla?”. Até relógios foram parados nas fábricas para que funcionários assistissem ao capítulo final. O remake de 2011 teve boa qualidade, mas sem o mesmo impacto. Exibir a obra original – agora restaurada – atiçaria o gosto do público por histórias de crime e misticismo, em tempos de true crime e thrillers no streaming.
Já Selva de Pedra (1972) alcançou a façanha jamais repetida de 100 % de audiência nos aparelhos ligados, segundo o Ibope. Cristiano Vilhena, vivido por Francisco Cuoco, sacrifica ética em nome do sucesso, trama que soa profética na era das redes sociais. A novela foi reduzida de 243 para 75 capítulos por economia de fitas, o que favorece reprises enxutas e maratonas rápidas no Globoplay.
Maria, Maria: a ousadia inicial de Manoel Carlos
Primeira novela de Manoel Carlos na Globo, Maria, Maria estreou em 1978, ambientada na Chapada Diamantina do início do século XX. Nada de Leblon ou da tradicional Helena: Nívea Maria interpretou duas protagonistas de perfis opostos, questionando papéis femininos e dilemas entre tradição e modernidade.
Com 119 capítulos preservados, a obra oferece:
- Cenário histórico pouco explorado na TV.
- Fotografia naturalista que pode ser realçada em 4K.
- Trama de empoderamento feminino, aderente a discussões atuais.
Ao ressurgir em 2025, a novela traria diversidade ao cardápio de novelas antigas exibidas, fugindo dos centros urbanos e mostrando o interior nordestino como protagonista.
Em resumo, novelas antigas como Roque Santeiro, Irmãos Coragem, O Astro, Selva de Pedra e Maria, Maria guardam fôlego para encantar novos públicos. Se a Globo apostar em reprises temáticas ao longo de 2025, o público – jovem ou veterano – terá motivos de sobra para ligar a TV ou abrir o app e revisitar capítulos que definiram o jeito brasileiro de contar histórias.











