Quem nunca ouviu na escola que Nero seria o principal culpado pelo fogo em Roma em 64 d.C? Muitos historiadores da época, que não gostavam do imperador, decidiram levar em consideração os boatos que circulavam no local antes de escrever a narrativa.
Tácito, que viveu no mesmo período e governo, afirmou que Nero não estava no local mas, por muitas pessoas não gostarem dele pela administração e também por ter tentado matar a mãe e a esposa, espalharam boatos.
O historiador argumenta que um dos principais motivos do fogo ter se espalhado eram as casas serem muito próximas e de madeira, que houve um acidente em um dos circos. Mas não é isso que a mídia retrata, como é o caso de Quo Vadis.
Pesquisas recentes afirmam que o imperador não estava em Roma durante o ocorrido e que sequer tocou seu instrumento musical em frente ao fogo em seu palácio. Mas, até que ponto, o ódio de determinado historiador pode influenciar a história de alguém devido a sua narrativa? Durante séculos acreditou-se que Nero era culpado e agora os estudos mostram que eram boatos equivocados e que os antigos historiadores se basearam neles.
Nero e Tácito
Os trechos abaixo podem ser encontrados na obra Anais de Tácito. Foram traduzidos pelo Brasil 123.
“O incêndio começou na parte do Circo, que está contígua aos montes Palatino e Célio; e dando nas lojas onde encontrou bastantes materiais combustíveis, apareceu logo com tal violência, ajudado pelo vento, que tomou todo o espaço do Circo (…) antiga Roma constava de ruas estreitas e quarteirões muito extensos.” (303 –305)
“Nero teria tentado criar formas para auxiliar o povo: Armaram-se barracas a pressa para recolher a gente mais pobre; regulou-se a venda do pão pelo preço mais baixo” (304)
“Contudo, todas estas demonstrações populares não produziram o seu efeito, porque se espalhou um boato de que Nero no momento em que Roma estava ardendo, fora ao teatro que tinha em sua casa, e nele cantara a destruição de Tróia, comparando as desgraças antigas com a calamidade presente. (…)”
“Mas nem todos os socorros humanos, nem as liberalidades do príncipe, e nem as orações e sacrifícios às doses podiam desvanecer o boato infamatório de que o incêndio não fora obra do acaso. Assim Nero, para desviar as suspeitas, procurou achar culpados, e castigou com as penas mais horrorosas a certos homens que, antes odiados por seus crimes, o vulgo chamava christaðs.” (Anais, pag. 312)