Um projeto desenvolvido pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul entregou quase mil celulares que estavam nas mãos de criminosos a estudantes da rede pública do estado. De acordo com Fernando Andrade Alves, promotor de justiça de Osório, cidade localizada no litoral norte, 994 aparelhos já foram destinados aos alunos para atividades remotas.
“É uma marca histórica. Quando nós iniciamos o projeto, nós imaginávamos que tínhamos condições de transformá-lo, de fazer com que fosse algo grandioso”, diz o prometo, que explica que o programa, intitulado Alquimia II, começou em julho do ano passado.
Ainda conforme o promotor, o projeto começou a partir de uma parceria dele com outra promotora: Cristiane Della Mea Corrales, da promotoria de educação. “Iniciamos esse programa assim que verificamos que a pandemia não era algo passageiro”, conta ele.
De acordo com o promotor, ele passou a observar que existiam campanhas nas escolas pedindo telefones celulares para que os alunos pudessem continuar estudando, mesmo que de longe, por conta da pandemia da Covid-19. No entanto, os pedidos não estavam sendo atendidos. “É um bem caro e, para a pessoa se desfazer, é só mesmo quando ele não está mais funcionando”, diz.
Celulares vindos do crime
Segundo Fernando Andrade, os celulares doados aos alunos, no início, eram apenas os vindos dos presídios. Todavia, hoje, o projeto se expandiu, e aparelhos encontrados em ações policiais também estão sendo distribuídos aos alunos.
“Ampliamos muito o projeto, ele não se resume hoje a celulares apreendidos em penitenciárias, porque nós vimos que o aproveitamento não era tão grande quanto imaginávamos. Passamos a pegar smartphones de outros procedimentos criminais, de processo de apreensão em flagrante, tráfico de drogas”, conta o promotor.
Necessidade dos alunos
Conforme o promotor, alguns aparelhos aparecem com defeitos ou quebrados. Quando tal fato é registrado, esses celulares são encaminhados a associação que, em parceria com uma loja de Osório, restauram os itens.
De acordo com ele, a necessidade dos aparelhos foi constatada quando do início do projeto. Isso porque, à época, um levantamento revelou que 25% dos alunos não estavam acessando as plataformas de estudo remoto.
“Identificamos que 75% dos alunos teriam acessado às plataformas, então havia por volta de 1/4 dos alunos que ainda não tinham acesso às atividades virtuais”, explicou o promotor, que ainda revela que os alunos que fazem parte do projeto recebem o celular sem custo, com o único compromisso de aderir integralmente às atividades escolas.
Projeto deve continuar
Por fim, o promotor revela que, mesmo com o retorno das aulas presenciais, o projeto deve continuar. “Nós verificamos que a educação virtual veio para ficar. O ambiente virtual, na pandemia ele foi o ambiente principal, mas agora ele passa a ser de apoio às atividades. Então o projeto segue”, finaliza.
“O projeto transforma lixo eletrônico em educação. Transforma bens utilizados em ambiente criminal, retira bens do crime e entrega pra educação. É um projeto que todos ganham, ninguém sai perdendo”, concluiu Fernando Andrade.
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