O jovem Gabriel da Silva Nascimento, de 23 anos, confessou que pensou que iria morrer durante as duras agressões que sofreu de um casal enquanto estava dentro do próprio carro, em frente de casa, em Açailândia, no Maranhão. Ele foi acusado por um crime que não cometeu – a vítima e a defesa dele chamam a ocorrência de racismo.
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Em entrevista veiculada na noite de domingo no programa “Fantástico”, da TV Globo, o jovem relatou que, depois de ter sido agredido pelo empresário Jhonnatan Silva Barbosa e pela dentista Ana Paula Vidal, que também mora no prédio, precisou se mudar do local.
Nas imagens, é possível ver como as agressões começaram. Na gravação, o empresário e a dentista aparecem abordando o rapaz, que estava dentro de seu carro. Nesta hora, o suspeito ordena que o jovem saia do veículo e as agressões começam.
Em dado momento, Gabriel é derrubado, sofre chutes, pisões e tapas. Na sequência, Ana Paula põe os joelhos em sua barriga e Jhonnatan pisa em seu pescoço. Tudo isso, sem que o jovem esboçasse nenhuma reação. Ainda na gravação, é possível ver que a sessão de tortura só termina quando um homem chega e diz que o jovem mora no prédio onde o carro em que ele estava foi retirado – este imóvel fica no mesmo local em que reside a dentista.
Ao “Fantástico”, o jovem, que é recepcionista de um banco e havia comprado o carro há dois meses, foi perguntado o porquê do empresário ter suspeitado que ele era um ladrão. De acordo com Gabriel, “talvez tenha sido pela cor”. “Houve esse preconceito em achar que não era meu”, relatou o jovem.
Por fim, Gabriel ainda contou que, durante as agressões gratuitas, pensou que iria morrer. “Eu achei que iria morrer. Pensei isso no momento que ele sobe em cima de mim, junto com ela, com os joelhos… Ali é sufocante, porque ela manda ele me imobilizar, pisando no meu pescoço. Eu me senti sem ar”, confessou.
Também ao programa da emissora carioca, Marlon Reis, advogado do jovem, reiterou a suspeita de um crime motivado pelo preconceito. “Foi um caso de racismo. Muitas vezes se busca, para a caracterização de um episódio claro de racismo, a verbalização, a utilização de palavras que denotem o preconceito racial, mas isso não é o padrão brasileiro, baseado em racismo estrutural”, afirmou o defensor.
Jovem teve dificuldade em denunciar
Outro fato registrado no caso do jovem foi a dificuldade que ele enfrentou para denunciar a agressão. Isso porque, no dia da sessão de tortura, que deixou roxos, cortes no rosto e no pescoço de Gabriel, ele foi à delegacia para fazer um boletim de ocorrência, mas em três tentativas diferentes não conseguiu registrar o fato.
Isso porque, de acordo com ele, as pessoas o informaram que o sistema estava fora do ar. Por conta disso, ele só conseguiu registrar a queixa no dia seguinte, o que impediu a prisão em flagrante dos agressores, que até o momento nem sequer foram ouvidos pela polícia.
Durante a reportagem do “Fantástico”, foi exibida uma nota da dentista, que afirmou sentir muito pelo ocorrido – a mulher negou que tenha cometido o racismo. Já Jhonnatan, que já foi condenado por ter atropelado e matado um senhor de 54 anos, em 2013, preferiu não dar nenhuma declaração.
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