A operação da Polícia Civil no Jacarezinho, localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, que culminou na morte de 25 pessoas, continua sendo um dos assuntos mais comentados no Brasil. Nesta sexta-feira (07), um dia após a ação, uma mulher afirmou que o marido foi morto em um beco da comunidade ao sair para comprar pão.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, a mulher que preferiu não se identificar, afirmou que o ajudante de pedreiro Jonas do Carmo dos Santos, de 32 anos, foi atingido por um tiro na perna e, depois, caído no chão, chorou, pediu ajuda, mas acabou alvejado e morreu.
“Eu estava deitada quando ele saiu. Se eu soubesse que o meu marido seria executado, eu não teria deixado ele sair. […] Meu marido foi baleado na perna, chorou, pediu ajuda, mas eles mataram o meu marido”, contou a mulher. Segundo a mulher, a vítima tinha dois filhos: um de 7 anos e um de um mês e estava junto com ela há sete anos.
A notícia da morte do marido
Durante a entrevista, a mulher relatou que quem avisou sobre a morte do marido na ação dos policiais no Jacarezinho foi uma sobrinha. Além disso, ela relata que os familiares comentam que a vítima estava na rua na hora errada e no momento errado, acusando a polícia de ir à comunidade para matar.
“A sobrinha dele começou a mandar mensagens dizendo que o tio tinha morrido […] Eu não quis acreditar. Eu fiquei nervosa porque tenho dois filhos, um recém nascido. Eu sai pela rua procurando ele e descobri que ele estava no acesso à padaria”, contou a mulher.
Ainda de acordo com ela, testemunhas que presenciaram o fato disseram que ele gritou após ser baleado e foi executado na sequência. “Se ele tivesse ido para o hospital e sido preso, seria lucro. Eles foram para matar e não prender. Eles estão falando uma coisa que não é”, relatou.
Mulher acusa polícia de modificar a cena do crime
A mulher do auxiliar de pedreiro, que acusa a polícia de ter modificado a cena do crime, relata que o marido já havia sido preso há alguns anos, mas cumpria sua pena em liberdade.
Segundo ela, o marido utilizava uma tornozeleira eletrônica, colocada na última segunda-feira (03) após ele ir ao Tribunal de Justiça do Rio para assinar a liberdade provisória. No entanto, junto ao corpo do rapaz, a família não encontrou o objeto. “Não achamos a tornozeleira. Eles mexeram nos corpos. Eles modificaram a cena do crime”, afirmou.
Características de chacina
Na visão de Jaime Muniz Martins, um dos líderes do Movimento Solidário nas Favelas e Periferias, a operação da Polícia Civil no Jacarezinho traz características de chacina. Além disso, ele ainda relata que os agentes, além de matarem os suspeitos, ameaçaram moradores que denunciavam os fatos.
“Eles ameaçaram as pessoas para elas não falarem nada. Falavam durante todo o tempo que não era para as famílias falarem nada, porque eles voltariam […] A operação de ontem é inexplicável. Eles atiravam, deixavam os rapazes tentarem fugir, os perseguiam pelo rastro de sangue e os matavam logo em seguida”, disse ele.
Por fim Jaime Muniz confessa que os moradores da comunidade nunca vivenciaram algo parecido com a ação no Jacarezinho que, conforme publicou o Brasil123, foi a operação mais letal da história do Rio de Janeiro. “A gente nunca viu uma coisa dessas lá na comunidade. As pessoas não tiveram chance de viver. Elas se entregaram, mas foram executadas. Quando a pessoa se entrega e é morta, é assassinato”, finalizou.
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