Cerca de 20 agentes da Polícia Militar (PM) participaram de um tour sobre cultura negra no Centro da cidade de São Paulo nesta sexta-feira (11). O evento aconteceu porque, desde o mês passado, a conduta da corporação é investigada pela promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público. Isso porque os agentes teriam seguido e filmado, durante três horas, os mesmos guias que promovem o passeio nesta sexta.
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O fato, ocorrido no dia 24 de outubro, foi, inclusive, denunciado nas redes sociais. De acordo com os guias, os policiais perguntaram se eles estavam se manifestando e eles explicaram que não, que aquilo era apenas uma atividade turística, garantindo que não haveria aglomeração, pois o ato era um serviço pago, com limite de pessoas.
No entanto, mesmo assim, “perseguição policial” durou 3 horas. Na ocasião, a corporação da PM justificou que, “por se tratar de um evento com grande concentração de público foi realizado o acompanhamento”.
Racismo estrutural
De acordo com um dos sócios da agência BlackBird Viagem, que estava no dia do fato, a atitude da PM é considerada um tipo de preconceito, conhecido como o racismo estrutural. “Pessoas negras juntas podem estar fazendo turismo e uma atividade cultural, não necessariamente uma manifestação. Pessoas negras correndo podem estar atrasadas, não necessariamente praticando um ato ilícito. A perseguição foi uma tentativa de criminalizar o trabalho que a gente faz”, disse Guilherme Soares Dias.
Grupo da PM fez o mesmo percurso dos turistas
De acordo com Guilherme, foram realizados exatamente os mesmos 3 km de percurso, em 3 horas, da Praça da Liberdade ao Largo do Paissandú. Durante o trajeto, os guias explicaram a história de algumas personalidades negras importantes para a cidade.
Depois do caso, a Promotoria de Justiça de Direitos Humanos do Ministério Público pediu esclarecimentos à Polícia Militar pelo constrangimento causado pela atuação da corporação no evento.
Para o promotor Eduardo Valério, o fato revelou “despreparo da Polícia Militar para agir de modo minimamente adequado ou, o que se mostra mais factível, manifestação expressa de racismo institucional, decorrente do racismo estrutural”.