As mensagens extraídas do celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que denunciou uma cobrança de propina de US$ 1 por dose em meio à oferta de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao Ministério da Saúde, indicam que ele era um homem de muitos negócios.
O aparelho telefônico, apreendido pela CPI da Covid-19, mostrou que ele vendia vários produtos, além dos imunizantes. De acordo com uma matéria do jornal “MG2”, da “Rede Globo”, no celular do policial há conversas em que ele estava tentando intermediar a venda de carros de luxo, esmeraldas e até mesmo 28 toneladas de salsicha.
Segundo a reportagem, apesar da grande variedade de itens, o que mais apareceu nas conversas foram negociações para a venda de produtos de saúde, como luvas, seringas e medicamentos, inclusive de uso controlado.
Para chegar aos parlamentares, Dominghetti usava sua influência com outros políticos, como o deputado estadual Professor Cleiton (PSB), que conversou com ele enquanto estava internado por pegar Covid-19 pela segunda vez.
Segundo as conversas, o policial mandou uma mensagem ao deputado se apresentando como representante no Brasil das vacinas da AstraZeneca e Johnson e Johnson, fabricante da Janssen, o que já foi negado pelas farmacêuticas.
Em outra oportunidade, Dominghetti passou para Cleiton o telefone de contato do secretário de Estado de Saúde, de Minas Gerais, Fábio Bacheretti, e o deputado se dispôs a ajudar.
Em nota, o governo de Minas Gerais afirma que foi mesmo procurado pela Davati, empresa que Dominghetti dizia representar. Todavia, a administração estadual disse que a negociação não avançou porque não houve comprovação que ela falava em nome dos laboratórios e nem que tinha capacidade de entregar as vacinas.
Denúncia à CPI
No dia 26 de junho, o Dominghetti procurou o deputado novamente e disse que queria realizar uma denúncia. Sendo assim, pediu os contatos dos senadores integrantes da CPI da pandemia.
Nas conversas captadas no celular do PM, ele afirmou que esteve no Ministério da Saúde, tem provas de reuniões, agendas e e-mails que poderiam guiar as investigações da Comissão.
Alguns dias depois, o jornal “Folha de São Paulo” entrevistou Dominghetti e a primeira bomba é jogada sobre o governo: a acusação de que o até então diretor de logística do ministério da saúde, Roberto Dias, teria pedido propina de um dólar por dose de vacina vendida.
Um dia depois, o PM mandou uma mensagem ao deputado, pedindo ao parlamentar que o ajudasse a pagar as despesas de uma viagem, o qual foi prontamente atendido. Isso porque, em 20 minutos, Professor Cleiton enviou o comprovante de uma transferência bancária de R$ 1 mil.
Perguntado sobre essa ajuda, o deputado confessou que fez a transferência, dizendo ainda que realizou a operação por solidariedade e porque entendia que o PM poderia, de alguma forma, contribuir.
Por fim, o deputado também afirmou que conhece o Dominghetti há anos, mas que não se envolveu com o PM quando soube que ele estava comercializando vacinas contra a Covid-19.
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