Um estudo recentemente publicado na revista científica Biomedicine & Pharmacotherapy aponta que um desequilíbrio nos níveis da enzima MMP (metaloproteinase) 2 e 9 pode indicar maior risco de morte por Covid-19. A pesquisa concluiu que as duas enzimas podem funcionar como biomarcadores prognósticos, o que significa que podem indicar risco de mortalidade do paciente infectado pelo novo coronavírus.
A pesquisa tem como primeira autora a aluna Carolina D’Avila Mesquita, da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto). Além disso, conta com pesquisadores da FMRP e da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP), ambas da USP (Universidade de São Paulo), Fiocruz-Minas e Mayo Clinic, dos Estados Unidos da América (EUA).
As MMPs são uma família de 25 enzimas que atuam na degradação das proteínas que promovem a união das células. Tal destruição leva à remodelação, com a necessidade de o corpo cicatrizar os órgãos acometidos.
“Entre as patologias relacionadas às mudanças provocadas pela MMP-2 e MMP-9 estão: infarto agudo do miocárdio, inflamação pulmonar e aneurisma da aorta abdominal. Identificamos que essas duas metaloproteinases estavam em níveis maiores no sangue dos pacientes que morreram por complicações da covid-19”, conta Christiane Becari, líder do estudo e professora no Programa de Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP da USP.
Segundo Becari, as MMP-2 e 9 degradam a rede de macromoléculas do pulmão, que são fundamentais para a sustentação da estrutura do órgão.
“Quando há uma alteração no equilíbrio dessas macromoléculas pulmonares e das MMPs, já temos na literatura científica evidências que essas enzimas contribuem para o desenvolvimento das doenças pulmonares, atuando na remodelagem do tecido pulmonar, bem como no estímulo para migração das células inflamatórias”, explica a professora à repórter Giovanna Grepi, do Jornal da USP.
Estudo é pioneiro em analisar papel das enzimas MMP na Covid-19
Os pesquisadores analisaram um grupo de 53 pacientes internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) e outro grupo formado por 29 pessoas saudáveis. “Nosso estudo é o primeiro a demonstrar o papel da MMP-2 na covid-19 e pode contribuir para o entendimento da fisiopatologia da doença, ou seja, entender os mecanismos de atuação do coronavírus no organismo”, explica.
De acordo com os resultados apresentados no artigo, a MMP-2 foi reduzida e a MMP-9 aumentou no grupo de pacientes internados por Covid-19.
“Na literatura, esse achado foi reportado em pacientes com sepse por outros motivos e a falta de MMP-2 em modelo animal de lesão pulmonar se relacionou com dificuldade de resolver a inflamação. Como a MMP-2 é uma enzima predominantemente anti-inflamatória, sua supressão na covid-19 grave provavelmente está relacionada e contribui com o estado inflamatório sistêmico desses pacientes”, afirma.