Um arranjo verde renova o ar, alegra a vista e dá personalidade à sala. Mas nem tudo que é bonito é inofensivo. Várias plantas venenosas frequentam casas, varandas e escritórios brasileiros sem que os moradores percebam o risco. Crianças, idosos e animais de estimação podem sofrer irritações, edemas e, em casos extremos, falência de órgãos. Conhecer as espécies tóxicas é o primeiro passo para uma decoração segura.
Por que algumas plantas ornamentais são venenosas?
Na natureza, muitas espécies produzem substâncias irritantes ou alcaloides para afastar predadores. Quando levamos essas plantas para dentro de casa, criamos uma situação de exposição contínua. Basta um toque na seiva ou a ingestão de uma folha para surgir ardência e outros sintomas. Além disso, parte das plantas tóxicas libera cristais de oxalato de cálcio que perfuram mucosas, provocando dor e inchaço imediato. Segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), intoxicações por vegetais ocupam lugar de destaque nos chamados aos centros de toxicologia.
Vale lembrar: não há antídoto específico para a maioria dessas intoxicações. O tratamento é sintomático e exige atendimento rápido.
10 plantas venenosas que aparecem com frequência nos lares brasileiros
- Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia picta) – Ícone da decoração tropical, contém oxalato de cálcio que causa edema de língua e laringe, podendo dificultar a respiração.
- Antúrio (Anthurium andraeanum) – Seiva leitosa irritante; mordidas em suas folhas geram sensação de agulhadas na boca e salivação intensa.
- Copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica) – Mesma família do antúrio; provoca vômitos, diarreia e risco de asfixia em crianças por edema de glote.
- Jiboia (Epipremnum aureum) – Muito usada em jardins verticais. Mastigar partes da planta causa dor de garganta, inchaço e náuseas.
- Costela-de-adão (Monstera deliciosa) – A seiva possui cristais microscópicos; contato ocular gera conjuntivite química.
- Bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima) – Popular no Natal; seu látex pode desencadear dermatite de contato e irritação gastrointestinal se ingerido.
- Coroa-de-Cristo (Euphorbia milii) – Espinhos e látex cáustico que queima pele e olhos. Animais de pequeno porte sofrem vômitos ao mastigá-la.
- Espirradeira ou Oleandro (Nerium oleander) – Folhas contêm glicosídeos cardiotóxicos. Ingestão de poucas unidades pode levar a arritmias graves.
- Azaleia (Rhododendron simsii) – Possui graianotoxina; ingestão provoca salivação excessiva, hipotensão e arritmias.
- Lírios verdadeiros (Lilium spp.) – Extremamente perigosos para gatos. Poucos grãos de pólen podem causar insuficiência renal aguda.
Sintomas mais comuns de intoxicação e o que fazer imediatamente
Os quadros clínicos variam de acordo com a espécie, quantidade ingerida e sensibilidade individual. Entre os sinais mais relatados estão:
- Queimação na boca, lábios e garganta;
- Inchaço de língua, pálpebras ou face;
- Náuseas, vômitos e diarreia;
- Erupções cutâneas ou coceira intensa;
- Dificuldade para respirar;
- Alterações no ritmo cardíaco.
“Em situações de suspeita, não provoque vômito nem ofereça leite. Ligue imediatamente para o Centro de Informação Toxicológica no 0800 722 6001 ou procure o pronto-socorro mais próximo.” – Manual de Toxicologia do Ministério da Saúde
Enquanto aguarda atendimento, lave a boca ou a pele da vítima com água corrente e separe uma amostra da planta para facilitar a identificação pelos profissionais de saúde.
Alternativas seguras para quem ama plantas dentro de casa
Se você não quer abrir mão do verde, há diversas espécies inofensivas que embelezam o ambiente sem risco. Veja algumas opções:
- Maranta-pena-de-pavão (Goeppertia makoyana);
- Palmeira-ráfia (Rhapis excelsa);
- Violeta-africana (Saintpaulia ionantha);
- Samambaia-americana (Nephrolepis exaltata);
- Peperômia-melancia (Peperomia argyreia).
Além de seguras, essas espécies exigem pouca manutenção e se adaptam bem a ambientes internos, favorecendo quem vive em apartamentos.
Dicas para prevenir acidentes com plantas venenosas
Quem já possui plantas venenosas pode mantê-las, desde que redobre os cuidados:
- Mantenha vasos em prateleiras altas ou suportes suspensos, longe do alcance de crianças e pets.
- Use luvas ao podar ou replantar para evitar contato direto com a seiva.
- Identifique cada espécie com plaquinhas; isso ajuda visitas e cuidadores a reconhecer o perigo.
- Ensine crianças desde cedo a não levar folhas ou flores à boca.
- Descarte podas e folhas secas em sacos fechados, evitando que animais fuçem o lixo.
Por fim, revise periodicamente o jardim. Ao perceber que uma planta tóxica virou ameaça constante, considere doá-la a jardins botânicos ou substituí-la por uma variedade segura. Segurança e beleza podem – e devem – andar juntas.











