Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (21), 130 servidores da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) furaram a fila da vacinação contra a Covid-19 com ajuda do Exército, mesmo sem o aval de técnicos do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Ministério da Saúde.
O Ministério Público Federal (MPF) apurou que uma lista secreta com nomes dos 130 servidores da Abin foi enviada ao Exército, que permitiu que tais servidores fossem vacinados como militares da ativa.
Conforme documentos reunidos pelo MPF em inquérito instaurado em 25 de junho, a vacinação dos agentes da Abin de fato ocorreu em Brasília. O inquérito investiga se membros da Abin e das Forças Armadas foram privilegiados na campanha de imunização.
Ministério diz que servidores da Abin não integram grupo prioritário de vacinação
Durante reunião virtual no dia 1° de julho com técnicas do PNI, Ana Carolina Roman, procuradora da República, questionou se fazia sentido priorizar a vacinação dos agentes da Abin. Participaram do encontro as técnicas Thaís Minuzzi e Caroline Gava, o então diretor do Departamento de Imunização do Ministério da Saúde, Laurício Monteiro Cruz.
Na ocasião, Caroline Gava afirmou que os servidores não fazem parte do grupo prioritário de vacinação contra Covid-19 e não sabia explicar como a imunização do grupo foi autorizada. Demitido do Ministério da Saúde uma semana depois, Cruz não questionou a explicação de Gava. Ele é suspeito de participar de um mercado paralelo de vacinas alvo da CPI da Covid.
“Tivemos esclarecimento com o GDF [governo do Distrito Federal]. A coordenação de imunização entrou em contato conosco, perguntando sobre esses profissionais [da Abin]. No PNI, esses profissionais não estariam contemplados, por não disporem de ações diretas [relacionadas à atuação em segurança]”, afirmou a técnica do PNI em resposta à procuradora.
“Se ocorreu a vacinação prioritária, a gente não tem como responder”, disse Gava.
Vacinação dos servidores da Abin desrespeitou normas do Ministério da Saúde
De acordo com ofício enviado ao MPF pelo secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, a vacinação dos servidores da Abin tem justificativa.
“Por fazerem parte do grupo de funcionários da força de segurança, houve o pleito de vacinação por parte da associação dos servidores da Abin para vacinação de 130 profissionais a serem contemplados, considerando o critério de exposição de risco epidemiológico decorrente do trabalho por parte desses servidores”, cita o ofício mencionado na reportagem do jornal Folha de S. Paulo.
Segundo o documento, a vacinação dos servidores ocorreu na Praça dos Cristais, em Brasília, em uma parceria entre a secretaria e o Comando Militar do Planalto, do Exército. “A listagem foi enviada diretamente para o Exército, considerando a importância da discrição quanto ao sigilo das atividades e nomes desses servidores”.
Na avaliação da procuradora Ana Carolina Roman, a vacinação dos servidores da Abin contra Covid-19 desrespeitou as normas técnicas do Ministério da Saúde.