De acordo com uma pesquisa publicada nesta semana na renomada revista científica The Lancet, as cidades brasileiras onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu mais votos no segundo turno das eleições de 2018 apresentaram as maiores taxas de mortalidade por Covid-19 no ano passado.
A análise foi feita por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade de Brasília (Unb), que cruzaram informações do mapa de votos do segundo turno de 2018 com o mapa de mortalidade por Covid-19 em 2021. O padrão de mais óbitos em cidades que apoiaram Bolsonaro foi observado mesmo levando em conta as desigualdades estruturais entre os municípios.
Na imagem abaixo é possível observar o mapa grande, em laranja, com a taxa de mortalidade por Covid-19 para cada 100 mil habitantes em 2021. Já o mapa verde mostra a proporção de votos em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018.
Os pesquisadores afirmam que, se em 2020 a desigualdade de renda e de infraestrutura em saúde foram principais responsáveis pelo cenário epidemiológico durante a primeira onda de Covid-19 no país, a segunda onda, em 2021, foi “explicitamente moldada pela escolha partidária dos municípios”.
“Ou seja, municípios que escolheram Bolsonaro como presidente do país apresentaram taxas de mortalidade por Covid-19 intensificadas na segunda onda”, ressaltam os autores da pesquisa.
“Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de que, quase um ano após a pandemia, o governo federal ainda se recusou a apoiar recomendações de distanciamento social e uso de máscara”, apontam os pesquisadores.
De acordo com os cientistas, o posicionamento do governo federal contribuiu para o “comportamento de risco das pessoas alinhadas ao pensamento do presidente Bolsonaro, expondo-as à Covid-19 e resultando em maior taxa de mortalidade”.
O estudo diz que mesmo cidades com melhores condições de lidar com a pandemia de Covid-19 podem ter tido maiores taxas de mortalidade pela doença por conta do posicionamento político da população.
“Assim, nossa análise demonstra que a escolha partidária foi um dos fatores que explicam por que municípios brasileiros com as mesmas características de desigualdade, renda e serviços de saúde se comportaram de forma diferente na primeira e segunda ondas da pandemia de Covid-19”, afirmam os autores do artigo.