Citada durante a CPI da Covid-19, uma organização evangélica com sede em Águas Claras, no Distrito Federal, ofereceu vacinas Astrazeneca e Johnson (Janssen) por US$ 11 a dose para municípios brasileiros, revela um documento publicado nesta sexta-feira (02) pelo portal “G1”.
De acordo com o texto, enviado pela Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), em março deste ano, a entrega do “grande lote” seria em até 25 dias.
O documento veio à tona após o agente da Polícia Militar (PM) Luiz Paulo Dominguetti, que se apresentou como representante da empresa Davati Medical Supply, em depoimento à CPI da Covid, revelar o documento.
De acordo com o texto, intitulado como “carta humanitária”, e assinado pelo presidente da Ong Amilton Gomes de Paula, as vacinas estavam “sob domínio da empresa americana Davati Medial Suplly”.
Durante sua oitiva, Dominguetti afirmou que esteve com o coronel da reserva do Exército Élcio Franco, que na ocasião era secretário-executivo do Ministério da Saúde, por meio da Senah e através de Amilton Gomes.
“Ele, Amilton, fez o contato no Ministério. Ele formaliza uma proposta. Essa proposta está no meu celular”, disse Dominguetti na quinta-feira (02), durante seu depoimento. Além disso, o PM também afirmou que Amilton chegou até ele “através de parceiros comerciais que já operavam na venda de medicamentos”.
Leia o documento na íntegra:
Em entrevista ao portal “G1”, a vereadora de Ijuií, no Rio Grande do Sul, Luciana Bohrer (PT), uma das cidades que recebeu a “carta humanitária”, revelou que o documento foi enviado para governadores, prefeitos e consórcios de municípios.
“Criamos um ofício e mandamos para o nosso prefeito, falando da importância das vacinas. A gente defende a compra de vacinas e o valor não era acima do que era pago para outras marcas”, disse ela na entrevista.
Ainda conforme ela, as pessoas sabiam que a empresa havia tentado negociar com o Ministério da Saúde, mas sem sucesso. “Pelo que a gente entendeu, eles estavam, então, abrindo para governadores, para os estados, municípios e consórcios também. Inclusive, na mesma época, tivemos deputados federais que fizeram doação de verba parlamentar para compra de vacinas”, disse a vereadora.
Encontro por vacinas
Uma publicação feita no começo de março, com direito a foto nas redes sociais de Amilton, o fundador da Senah, revela que ele fez uma reunião no Ministério da Saúde “para articulação mundial em busca de vacinas, e para a consecução de uma grande quantidade dos imunizantes a ser disponibilizada ao Brasil”.
Na publicação em questão é possível ver Dominguetti, que nesta semana disse, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, que em fevereiro deste ano Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, pediu propina de US$ 1 por dose de vacina.
Em nota, revelada após a denúncia do suposto pedido de propina, a AstraZeneca informou que não tem intermediários no Brasil. Também em comunicado, a Davati disse que Dominguetti não tem vínculo empregatício com a empresa, sendo apenas um vendedor que atua de maneira autônoma.
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