Segundo documentos enviados à CPI da Covid, o médico Anthony Wong, famoso por defender o “kit covid” com medicamentos sem eficácia comprovada pela doença, morreu de complicações causadas pelo novo coronavírus, assim como a mãe de Luciano Hang. No entanto, a Covid-19 não consta como causa da morte de ambos, o que vai na contramão do que foi determinado pelo Ministério da Saúde desde o começo da pandemia.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Covid-19 não pode ser omitida da certidão de óbito quando a morte é causada por complicações da doença, mesmo se a pessoa já não testava positivo para o novo coronavírus.
Tanto Anthony Wong quanto a mãe do empresário Luciano Hang, Regina Modesti Hang, foram internados com Covid-19 em hospitais da rede Prevent Senior, alvo da CPI da Covid por pressionar médicos a receitarem o chamado “kit covid” composto por medicamentos sem eficácia, como cloroquina, ivermectina, azitromicina e ozonoterapia, essa última proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
A Prevent Senior é acusada por médicos da rede de conduzir um estudo para avaliar a eficácia do “kit covid” sem consentimento dos pacientes. Nove mortes ocorridas durante a pesquisa foram omitidas pela empresa, que só divulgou dois óbitos.
Prevent Senior altera código da doença 14 dias após internação por Covid-19
Regina Hang e Anthony Wong morreram por complicações geradas pela Covid-19 após tratamento na rede Prevent Senior, cujo diretor prestou depoimento hoje (22) à CPI da Covid e confirmou que a empresa muda o código de diagnóstico da Covid-19 após 14 dias de internação.
“Todos os pacientes com suspeita ou confirmados de covid, na necessidade de isolamento, quando entravam no hospital, precisavam receber o B34.2, que é o CID de covid, e, após 14 dias —ou 21 dias, para quem estava em UTI —, o CID poderia já ser modificado, porque eles não representavam mais risco para a população do hospital”., disse Pedro Benedito Batista Junior, da Prevent Senior, que passou à condição de investigado pela CPI.
O senador e médico Otto Alencar (PSD-BA) disse que a alteração do CID é criminosa. “O senhor realmente não tem condição de ser médico com a desonestidade que eu vi agora. Sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune o senhor”, afirmou.
“Eles consideram que, depois de 14 dias, esse paciente não tem mais covid ou que, depois de 21 dias, ele não tem mais covid. Essas pessoas morreram de complicações de quê? De covid! Então, é covid!”, disse o senador e também médico Humberto Costa (PT-PE).