Após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a comercialização de autotestes de Covid-19 no Brasil, ficou a dúvida sobre qual parcela da população será beneficiada pela medida.
Na avaliação do médico sanitarista e vice-presidente da Associação Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrasco), Reinaldo Guimarães, o acesso ao produto ficará restrito à parcela mais rica da população brasileira. Isso porque, até o momento, não há qualquer indicativo de que os autotestes serão disponibilizados gratuitamente através do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Não acredito que a autorização para a venda dos testes terá uma grande importância no combate à pandemia. Quem tem condições de comprar um teste por R$ 180? Só uma pequena parcela da população, a de maior poder aquisitivo. A maior parte das pessoas não tem como pagar. Além disso, com a alta procura, a tendência é que o preço dos testes suba”, disse o sanitarista em entrevista à BBC Brasil.
Na opinião dele, seria importante que o autoteste de Covid-19 fosse incorporado como política pública do SUS e distribuído gratuitamente em um programa amplo de testagem em massa, como ocorre no Reino Unido, por exemplo.
“Outros países que têm um sistema de saúde, como o Reino Unido com o NHS, disponibilizam os testes de graça. Já os Estados Unidos, que não têm sistema de saúde (público), compraram um grande volume de testes e também estão distribuindo à população”, explicou Guimarães.
Saúde acha “difícil” incorporação dos autotestes de Covid-19 pelo SUS
Apesar de o pedido para liberação da venda de autotestes tenha sido feito pelo Ministério da Saúde, o ministro Marcelo Queiroga já afirmou que é “difícil” a incorporação do produto pelo SUS.
“Sem ter essas respostas em relação à efetividade e ao custo, essa política pode não ter o resultado que desejamos. Isso não quer dizer que o teste não possa ser vendido nas farmácias para que a população possa adquirir e realizar o teste. Isso é muito possível que a sociedade possa ter esse acesso, as redes privadas têm realizado testes também”, afirmou Queiroga, em 10 de janeiro.
Durante a reunião deliberativa que aprovou a comercialização dos autotestes de Covid-19 no Brasil, o diretor da agência, Romisson Rodrigues Mota, citou o exemplo do governo da Espanha, que limitou o preço dos autotestes em até 2,94 euros (cerca de R$ 17,60). No entanto, não há indicativo de que os preços praticados no Brasil ficarão nesta faixa.
Segundo a Anvisa, os autotestes de Covid-19 devem chegar as farmácias no mês de fevereiro. Para isso, as empresas interessadas devem enviar o pedido de registro do produto à agência.