A jornalista Malu Gaspar no jornal “O Globo revelou, na noite de quinta-feira (06), que aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgaram, de forma ilegal, dados como telefone e e-mail de três médicos que defendem a vacinação de crianças contra a Covid-19.
Segundo a jornalista, as informações, coletadas em documentos do Ministério da Saúde, foram rapidamente espalhadas pelas redes sociais e tem tomado conta dos grupos bolsonaristas nos últimos dias.
Ainda conforme Malu Gaspar, esses dados estavam em declarações de conflito de interesses dos especialistas, documentos estes entregues ao Ministério da Saúde antes que eles participassem da audiência pública sobre o tema, na terça (04).
Essa prática de entregar documentos é comum no meio acadêmico e faz parte do protocolo para a participação de publicações científicas, consultorias e audiências públicas. Além disso, via de regra, essas declarações são tornadas públicas.
No entanto, neste caso, o problema acontece porque imagens dos documentos foram divulgadas na íntegra, ou seja, sem que fossem ocultados dados pessoais como CPF, e-mail e celular. Tal fato é irregular e atingiu os seguintes médicos:
- Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações;
- Marco Aurélio Sáfadi, da Sociedade Brasileira de Pediatria, e
- Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
O trio participou da audiência pública promovida pelo Ministério da Saúde e defendeu a aplicação da vacina contra a Covid-19 em crianças de cinco a 11 anos, algo que é contrário à opinião de Bolsonaro e seus apoiadores.
Ameaças aos médicos
Em entrevista ao “O Globo”, um dos médicos afirmou que o vazamento aconteceu enquanto a reunião ainda acontecia. Logo depois, informou essa pessoa, ataques intimidatórios e ameaças de grupos radicais antivacina começaram a “pipocar” em suas redes sociais.
Deputada admite ter compartilhado
Umas das pessoas que espalhou os dados dos profissionais da saúde foi a deputada Bia Kicis (PSL-DF). De acordo com ela, que é apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, os dados pessoais dos doutores foram compartilhados por ela em grupo de WhatsApp.
“Compartilhei em um grupo de zap de médicos. Quando me avisaram no Ministério da Saúde que alguém havia postado, pedi imediatamente que quem o fez removesse. Mas o ministério me informou que os documentos iriam para o site. Por isso entendi que eram públicos”, defendeu.
Atualmente, Bia Kicis, que é procuradora aposentada, é investigada no inquérito sobre produção de fake news e ameaças a autoridades que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
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