O médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, Jamal Suleiman, se emocionou ao lembrar da morte do irmão e da cunhada durante entrevista sobre a pandemia de Covid-19 à Globo News na manhã desta quarta-feira (5).
“O que fica, e onde a gente se agarra, é tudo que a gente viveu junto. Não dá tempo. Vou guardá-los eternamente. Cada um de nós tem esse espaço para guardar pessoas que a gente ama. A gente tem que tocar. Desculpa, mas… (emocionado) vai passar. Só não quero que ninguém mais sofra esse impacto”, comentou Jamal em entrevista à GloboNews.
O médico ressaltou que a Covid-19 tem tirado a vida de pessoas cada vez mais jovens no Brasil e fez um apelo para que as pessoas não normalizem esse fato.
“Primeiro a gente enterrou nossos pais e avós. Nesse segundo momento a gente está enterrando irmãos e filhos. Isso é muito grave. O apelo é para que a sociedade não entenda isso como um fenômeno normal”, pediu o médico.
Morte de Paulo Gustavo por complicações causadas pela Covid-19
Entre os exemplos de óbitos por Covid-19 em pessoas jovens, Jamal citou o caso do ator e diretor Paulo Gustavo, que morreu nesta terça (4) em decorrência de complicações causadas pela doença.
“É um ator jovem, um indivíduo que faz exercícios, e que permaneceu quase 2 meses internado em UTI por conta de uma doença grave. Isso mostra várias coisas: o deslocamento da infecção para uma faixa mais jovem, a permanência longa na UTI, porque possui reserva maior, e cujo desfecho foi aquilo que se esperava, morte, uma situação ruim para todo mundo. A gente consegue entender o esgotamento da sociedade como um todo. Mas desde o princípio a gente está dando a receita. É um vírus respiratório. São várias coisas que precisam ser feitas. E os órgãos responsáveis erraram todas”, analisou Jamal.
Governo não agiu bem para conter a Covid-19
O médico infectologista ainda afirmou que o governo brasileiro se colocou contra medidas de proteção que poderiam ter minimizado os danos causados pela Covid-19 no país, além de apontar que a campanha de vacinação está lenta.
“O que acontece no país é inacreditável: negamos, desde meados de ano passado, propostas de vacinas. Pessoas do executivo se colocaram contra medidas óbvias de minimização desse problema. Estamos pagando um preço alto por isso. Que nos unamos todos para ter acesso rápido a esses produtos. Não é razoável que a gente tenha que se submeter a isso”, disse Jamal.