Conforme estudo feito por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), a solução salina hipertônica inibe a replicação do novo coronavírus, causados da Covid-19. Os resultados da pesquisa realizada com células epiteliais de pulmão infectadas com o vírus foram publicados na revista ACS Pharmacology & Translational Science.
A eficácia da solução salina hipertônica ainda precisa ser comprovada em testes clínicos. Caso os testes em humanos apontem para os mesmos resultados, a descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para a Covid-19.
“Dada a gravidade da pandemia, acreditamos que seria importante avançar nesse estudo e realizar testes clínicos para verificar a eficácia do uso de spray e de nebulização com solução hipertônica de cloreto de sódio [NaCl] como forma de profilaxia, ajudando a diminuir a disseminação do vírus no organismo infectado e a reduzir as chances de uma inflamação mais grave”, diz Cristiane Guzzo, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).
O estudo contou com apoio da FAPESP e com a participação dos pesquisadores Edison Durigon, também do ICB-USP, e Henning Ulrich, do Instituto de Química (IQ-USP).
Segundo os autores, embora as evidências apontem que o uso da solução de cloreto de sódio iniba a replicação do novo coronavírus, isso não quer dizer que represente uma proteção total contra a infecção e muito menos a cura da doença.
“Trata-se de uma medida muito simples e barata, já utilizada como profilaxia para outras doenças respiratórias e que poderia minimizar a gravidade da COVID-19 ao reduzir a carga viral. Ela poderia ser adicionada aos protocolos de segurança, sem substituir o uso de máscaras, distanciamento social ou a necessidade de vacinação”, destaca Guzzo.
Redução da replicação do coronavírus com a solução salina pode diminuir a gravidade da doença
A pesquisa comparou diferentes concentrações do produto, concluindo que o uso da solução a 1,5% de NaCl inibiu a replicação do SARS-CoV-2 em 100% nas células vero – linhagem de células renais de macaco usadas como modelo de estudo do novo coronavírus. Nos testes com células epiteliais de pulmão humano, a solução de 1,1% foi o bastante para inibir a replicação do vírus em 88%.
“Não se trata de uma solução única e seria um tratamento utilizado nos primeiros dias da infecção. Reduzir a replicação do vírus significa reduzir a gravidade da doença e o agravamento inflamatório. A COVID-19 é uma doença complexa, tem a parte da replicação viral – que a solução salina teria efeito – e também a da inflamação sistêmica, que vai além. Esta segunda fase, quando iniciada, pode ser intensa e gerar uma série de outras complicações em diferentes órgãos”, alerta Guzzo.
A solução salina hipertônica vem sendo utilizada como medida profilática adicional no tratamento de diversos problemas nas vias aéreas, como gripe, bronquiolite, rinite e sinusite. Embora a medida apresente bons resultados, não se sabia muito sobre o mecanismo de ação.
“Ao conseguir explicar esse mecanismo intracelular de resposta à solução hipertônica, realizamos um estudo de ciência básica com aplicações claras na saúde e na compreensão de diferentes doenças respiratórias. O que foi observado no caso do SARS-CoV-2 é provável que se repita com outros vírus, pois se trata de um mecanismo da célula hospedeira”, afirma Ulrich.